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terça-feira, 27 de abril de 2010

Pensando em escrever


Ouvi, logo atrás de mim, um tilintar qualquer dos meus medos, enquanto tentava me convencer de estar segura porque já carregava o controle nas mãos e não precisaria parar de caminhar. Perdi meu caderno-confessionário na interminável bagunça do meu armário; desacreditei tuas palavras: uns contradizendo os outros e inventando confusões desnecessárias, o mundo girando ao contrário. Tenho preguiça de celebrar datas de aniversário, restaram poucos cigarros, os livros se acumulam desordenados, os pés congelam descalços. Temos mais uma tarefa, um incontável assomo de sono perdido e uma quantidade de café percorrendo meu sangue suficiente para prolongar mais uma noite em claro. Quero descansar, seu tempo está me matando de tanto esperar. Queria uma recompensa que nunca virá: um reconhecimento, uma vitória, ou quem sabe bastasse mesmo um abraço que não fosse de má vontade. Estou exausta de me conformar, me consolar, me ajudar a levantar. Já demorei mais do que uma madrugada, inútil, tentando escrever quando eu só sabia mentir. Não queria gastar tempo descrevendo a cor dos olhos ou dos cabelos, a voz, o sorriso ou o jeito de andar; queria as cores todas nesse pedaço de papel: vivas, pulsando e me atacando; exigindo de mim as últimas inspirações, me roendo, me sangrando e incriminando. Queria a culpa do mundo toda sobre as minhas costas e o delírio gotejando. Queria um apego sincero, incondicional, que não desistisse de mim quando parecesse maluca; que não sentisse vergonha de mim quando eu brigasse pelas minhas idéias; queria que “amar” tivesse algum sentido verdadeiro e que não fosse só mais uma dívida do coração. Não quero mais me lamentar e parecer uma teimosa andando na contramão. Não quero mais responder tuas perguntas, porque já me cansei de te enganar.

Written by: Angélica Manenti

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