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sábado, 17 de abril de 2010

Ensaios sobre o amor II

ENSAIOS SOBRE O AMOR: UMA VISÃO PESSIMISTA

PARTE V
Hoje eu calculo que o amor seja uma passagem ridícula, desnecessária às nossas vidas. Logo eu que acreditava e esperava tanto do amor; mas o amor não me convence mais, não me ilude: não me satisfaz. E quem irá dizer que é pecado preferir o prazer ao amor? Ou mais adorar o momento do que gostar de sentar para planejar o futuro e afogar-se nas malditas recordações.
Buscar a cada dia juntar um maior número de histórias novas, ao invés de propor-se a batalhar por uma única história construída passo a passo com um esforço descomunal.
Romances caem bem nas páginas dos livros antigos, descansando na prateleira do quarto, juntando poeira e traças. Beijos de amor não podem ter um sabor tão distinto dos beijos baratos que eu arranjo todas as noites, em lábios que eu esqueço de reparar no rosto, em rostos que eu nunca recordo o nome.

PARTE VI
O amor é incrédulo. Acompanhado de brigas intoleráveis, crises de mau-humor inaceitáveis, insultos e ameaças só de passagem. Eu grito que estou indo embora, bato a porta na sua cara e fico plantada no corredor esperando o tempo passar para que eu possa voltar. Somos mesmo teimosas e essa rotina me parece o fim do precipício; a monotonia é o meu suicídio.
Grunhidos de prazer; os membros exaustos; a fome da sua carne; e eu não sei mais a quem querer bem; não há mais a quem recorrer.
Promessas de um tempo bom; mas hoje chove sem parar e desgraça as ruas de terra. O amor tem certas crateras que eu prefiro não ter de desvendar. O amor é o único rio que não sonha encontrar o mar; o amor só deságua, vira enxurrada, mofa as paredes da sala.
Amar é uma longa caçada; são os ruídos no meio da madrugada, a laçada incerta, os passos discretos, as frases secretas. Amar é desde as intenções até os empréstimos; das ligações aos acréscimos e eu me pego cobrando de ti um amor que eu não saberia retribuir.

PARTE VII
O amor é meu trocado, meu desperdício; é tudo aquilo que eu não poderia gastar, mas consumo. Amor a gente carrega até ao túmulo.
O amor é o hospício de quem se julga normal; é o ponto final, e só algumas vezes a vírgula.
O amor enfraquece, deteriora, tem mal-gosto e traz pesadelos; traz medos, angústias e perdas. Amor desbota, estraçalha, envelhece e inventa novos poetas solitários e culpados. Dias calados por nojo das próprias vozes. Roendo unhas e assistindo filmes legendados, com olhares furtivos e disfarçados. Olhe só para nós assim tão próximas, até parece que nos amamos. Não quero mais te olhar agora; cansei da sua imagem, vá tirar essa maquiagem; a quem você espera enganar?
Durma um pouco, suas olheiras estão péssimas. Eu nunca lhe disse que amar é dividir a mesma insônia.
Livre-se de mim por alguns instantes ou por alguns anos, descanse. Eu volto para lhe buscar pouco antes de a minha vida acabar, e eu acho sinceramente que dura pouco tempo.
Talvez eu me perca no caminho, desaprendi a andar sozinha; então não me espere assim tão ansiosa, não tente bancar a manhosa, permita que eu vá me perder.

PARTE VIII
Amor é o monólogo de cada uma das partes; é o egoísmo exigindo atenção das próprias paredes. O amor não sabe ouvir, é impaciente e implicante, é repugnante.
Amar é um insulto.
Amar não passa de um pedido de desculpas em qualquer circunstância. Com licença, você poderia me amar por um momento?
O amor nasce mesmo da falta de escrúpulos, amor nunca é de todo puro. O amor é só um complemento do desejo carnal, é o disfarce das sacanagens e perversões. O amor é só um meio de tirar sua roupa mais depressa e alcançar suas tentações.

-Continua-

Written by: Angélica Manenti

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