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sábado, 24 de abril de 2010

Dia de Almas



Estou apelando outra vez para o caderno mais secreto, porque algumas coisas tornaram a ficar frias. Os meus olhos ardem – do sono, da lágrima que não rompe, da dor que não sei mais sentir – enquanto a vejo dormir me pergunto se a culpa não é do nosso signo não combinar. Tive de sair e caminhar antes que me perdesse no mesmo lugar. Tive de voltar para casa tomando o caminho mais longo para dar tempo de me convencer e assimilar suas palavras antes de chegar. Não pode ter sido tudo tão sério. Alguns sons não são reais: passos apressados me seguindo; e eu não vejo ninguém quando olho para trás. É segunda-feira e a cidade mal irá acordar; o feriado das almas, um dia morto. As ruas estão muito mais quietas que meus sofrimentos. E é tão difícil brigar para não sentir esse arrependimento, afinal, o que foi dito, está feito. Errado mesmo seria não permitir que acontecessem as coisas, sejam elas boas ou até mesmo as que dão medo encarar.
Vamos ser sinceros, ao menos desta vez; vamos pôr a modéstia e a humildade de lado. O que há em mim tão diferente que me separa de você?
É fácil começar a me admirar, se surpreender com a quantidade de coisas que sei fazer; mas é tão distante me amar. Será que errei ao querer ir tão longe? Ao saber um pouco de tudo, ou ao ser compreensível demais, otimista demais, romântica ao extremo e fazer piada das dores mais tristes que guardo. Será que eu me isolei tentando encontrar um modo de ser perfeita para você?
Toda a calma que aprendi a ter. Muita coisa não condiz, eu sei. Para ser bem sincera, muito do que eu digo é mentira. Para que me perdoe, eu não tenho preguiça de passar por cima de mim para lhe fazer feliz.
Eu precisava justificar minha loucura, então eu culpo o pouco tempo que resta; eu me permito viver mais e amar sem censuras; eu não me aquieto quando as coisas terminam.
Não adianta ficar sentada na porta de casa esperando alguém chegar, hoje é meu dia de ficar só. Não posso nem me animar com os vultos que cruzam a calçada aqui em frente, porque nenhum deles pretende entrar. E que se dane o mundo, se nem assim sou capaz de morrer. Nem os carros sabem me atropelar, mesmo quando eu atravesso dezenas de ruas sem olhar para os lados. Até o sol voltou a nascer pra que eu pudesse voltar para casa em segurança da luz. Não posso negar que muita sorte me protege, mas se a sua grande ameaça é o suicídio, arrume outra resposta: eu também ensaio o meu final todos os dias.
Written by: Angélica Manenti em 02 de Novembro de 2009.

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