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domingo, 26 de setembro de 2010

Quase Longe


Hoje eu entendo esse nosso gostar acertado, quando o tempo passa arrastado e necessário do seu lado. A gente vai se conhecendo no estreito dos passados quando convém que se contem as histórias, cada qual numa tarde de memórias demoradas.
Agora que a gente vai ter de provar um exemplo de saudade eu me pego pensando umas palavras novas, penso que deveria ter dito antes, naquela hora do olhar calado que estava mesmo era cheio de frases mal terminadas, esperando sua chance de escaparem. Quando a gente esquece-se de conversar e tudo vira mesmo um confuso de braços e beijos, é quando eu sinto umas verdades estranhas, que não acho meio de representação em palavra definida.
Eu ando achando que essa semana vai me ser um derradeiro mal, que você vai me fazer uma falta tamanha, dessas que retiram as vontades de cumprir a rotina diária. Que a presença, quando põe no sorriso da gente a alegria, faz nosso dia parecer um inteiro que se dissipa sem demora, sempre muito mais suportável. E a ausência faz preguiça, tira a firmeza dos gestos. Fica mais perto, por certo.

Written by: Angélica Manenti

domingo, 12 de setembro de 2010

Livro tem que ser aprendido como diversão

Você veja só que coisa mais irônica: eu adoro ler. Sério mesmo. Inclusive, eu amo comprar livros porque acho interessante colecioná-los, sair emprestando. Mas pegue um título qualquer como exemplo. Se indicarem como uma boa leitura – que seja em uma conversa descompromissada entre amigos – eu devoro cada palavra, viro noites envolvida com o livro; já se me impuserem como dever eu acho uma sujeira – a leitura fica fúnebre, empaca. O prazer da literatura está na não-obrigação, no viver a história ao seu tempo, construindo os personagens na imaginação até que estes virem uma espécie de memória, de tão vívido o nosso convívio.
Não force uma criança a ler: instigue. A escola não virou as costas para a leitura, mas ela traumatiza com a forma de abordar. Livro não é requinte de tortura para as odiadas aulas de Língua Portuguesa, Livro tem que ser aprendido como diversão e com letra maiúscula.
É fácil apontar a falha dos pais que não têm o hábito de ler, da escola que não incentiva ou da dificuldade de acesso. Aliás, gente levantando o dedo sujo para apontar os outros é comum. Mas eu estou reclamando aqui a raiz de um problema, e pelo que sei, toda raiz de um problema social está invariavelmente ligada ao caráter de cada indivíduo. Convenhamos: cada nova geração – quanto mais vítimas das facilidades e futilidades da tecnologia – está vindo mais corrompida e mesquinha. E digo isso por experiência, porque eu já vi muito marmanjo fazendo piada com a cara do colega que gosta de ler. Não estou exagerando, não. Pasmem: existe bullying literário (termo que eu não verifiquei se existe, mas faço questão de registrar aqui).
Então eu sempre recordo de uma professora do meu ensino fundamental que me marcou com sua paixão incondicional pela leitura e que plantou essa semente em mim. Ela fazia parecer que o livro tinha gostinho de chocolate. E ela também costumava dizer que nós nunca mais somos a mesma pessoa depois de um livro: vamos nos moldando com as palavras. Eu consigo ver claramente o quanto isso é essencial, e por isso me apavora o fato de que os jovens de hoje não prezam a leitura.
Se o livro com tamanho papel na sociedade for substituído por sabe-se lá que vaidade dessas gerações, imaginem vocês no que vai resultar a formação do caráter deles.

Written by: Angélica Manenti
Artigo Publicado no Jornal Enfoque Popular em 17/09/2010 (Página 2): http://www.jornalenfoquepopular.com.br/

Confissão apressada


Meu coração ficou apertado: eu senti que estava cometendo mais um erro. Foi um nó desses que a gente sente à beira da perda. Nossas garantias ainda são válidas? Porque o instante seguinte é o segundo mais incerto. E eu que andei disfarçando um apelo dentro de mim, pegava as sobras e me corrigia. Eu que andei tantos destinos antes de escolher uma direção, fui trajando de agonias a minha história; fui quebrando promessas só por medo de um dia doer na memória. Eu que ainda não sei se estou implorando ou fugindo, acredito que você possa ser meu guia desta vez, e que eu consiga me decidir quando for essencial. Fui descobrindo que a gente não escolhe as cicatrizes que vai carregar; fui suportando dores. Segurei tantas mãos, olhei dentro de tantos olhos. No fim essas inverdades não me satisfazem. Acordei tantos beijos, ocupei tantas horas da noite. Foi tempo desgastado. As horas escorregam na escuridão, liquidas demais. O vento sussurra, o frio se torna desconfortável e a pele continua nua. Esferas de fumaça pesadas de medo. Cheiro de outros desejos.
Eu me rendo, sou errada.

Written by: Angélica Manenti

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Novo


Gosto quando sobra assim, de viés na memória, aquela cena mais bonita do teatro, aquela peça mais intrigante do amor. Uma música que se arraigou para ser nossa desde o primeiro momento. Depois de andarmos uns passos desencontrados, num surto cego que não durou. Que não nos enxergávamos. Mas a gente descobre que tirando o amor, o mais da vida é sempre muito mal encaminhado.
Quando a gente decide terminar com a escuridão, acender uma luz boa de alumiar até dentro do coração, a gente inventa motivos mil que antes não sobravam. Ainda brincava que o amor um dia viria, sorrateiro para quem menos aguarda e procura, sem nem acreditar que a gente fosse se reencontrar por certo. Mas quase sempre sorria, porque a graça não estava no apartado da dor, estava mesmo era agarrada ao que ainda chegaria; era o dia de amanhã pintado nos quadros da sala e a gente adivinhava uma sorte verdadeira.

Written by: Angélica Manenti