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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Ensaios sobre o amor IX


ENSAIOS SOBRE O AMOR: EM PAPEL SEM LINHAS

PARTE I
Meus delírios mais suntuosos; meus surtos mais perigosos; meus caminhos mais sinuosos; meus rabiscos completamente sem lógica. A sua retórica. Três anos depois, dezenas de caligrafias diferentes que jamais se encaixaram em mim ou me agradaram e eu continuo escrevendo. As mesmas idéias vindo como uma avalanche que minha mão e a caneta não são capazes de acompanhar; e eu não paro de escrever.
Você hoje parece bem mais madura; menos insegura e até mais eloqüente. O que você guardaria em uma caixa de recordações? O que você me daria de presente?
Eu não posso fingir que esqueço enquanto fico aqui sofrendo calada. Como alguém pode voltar a chorar depois de tantos anos sustentando meras inverdades? Solidão é resposta direita. Dói o medo de não reencontrar: os bons amigos, os amores antigos, o amor próprio. Quando de alegria, passo a ter pena de mim. Não posso nem conviver com meus próprios pesadelos, preciso confessá-los antes de dormir. Não reclamo das dores, nem do rasgo silencioso que atravessa meu peito. Eu fui egoísta, quis impor meu jogo, quis satisfazer minha necessidade de presença, e esqueci de que estava só lhe apertando as amarras que tanto a angustiam. E outras vezes eu quis ser dona do amor de outrem, sem perceber que isto não é propriedade que se guarde num cofre e tome o comando dos dias. Amor não é animal que se domestica. Selvagem: precisa de muito espaço. Amar de pés descalços... Ah, os perigos.

PARTE II
O amor não é, nem de longe, a solução para todos os problemas; amor não resume todos os sentimentos do mundo: é um desastre que se torna mais ameaçador ainda nas noites de insônia. Amar é como querer manter impecável uma velha estante de livros: não importa o quanto você a limpa, o pó torna a se acomodar sobre as páginas cansadas.
Amar jamais será de graça. Nós vivemos neste meio termo, inventado paixões, escondendo segredos, criando personagens, jurando não sentir medo.
Eu acreditei durante muito tempo que poderia existir amor perfeito, e me esforçava mesmo por fazer com que ela se sentisse no seu conto de fadas. Mas e eu? Esquecia de mim, me lograva. Era uma dependência inconsciente, e eu me drogava dela; queria a sensação naquele momento, precisava me sentir íntima, construir nosso universo particular, pertencer a ela de corpo inteiro, ser seu motivo, seu drama pessoal de todas as manhãs, ser seu refúgio, seu sonho, seu objetivo, seu antídoto. E tudo o que fiz foi desistir de mim. Não fui.
Não vou dizer que nem cheguei a sentir. Há momentos, e nós guardamos muitas coisas com carinho na memória, embora eu esperasse que aquela ilusão durasse para sempre. Deve ser neste ponto em que erramos o querer: brigamos pelo engano.

-Fim-

Written by: Angélica Manenti

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