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domingo, 23 de setembro de 2012

Nada

Então é isso: o amor precisou acabar.
A saudade ficou na ignorância. Nem um único suspiro de sentimento quis ficar, para fazer jus às tentativas da vida de me endurecer. Eu não resto mais. Antes eu só não poderia voltar atrás, agora nem quero escolher uma direção. Quero ficar aqui, inerte, esperando o tempo curar. Preciso me resolver sem os desesperos pressionando minhas decisões. Esgotei a culpa e o pesar.
Nunca mais quero sentir. Nada. Por ninguém.
Sobrou um grito, que eu amarguei. Faltou o ímpeto de insistir uma vez mais, porque eu deixei o medo ser maior. Se não aconteceu, foi porque muitas vezes eu deixei de lutar também. Abandonei meus planos depois de prontos. Esperei, por horas, dias e meses; mas o tempo não resolveu nada. Fui paciente mesmo na insegurança, mas fiquei calada e assim fui perdendo da maneira mais violenta possível: em silêncio.

Angélica Manenti

domingo, 16 de setembro de 2012

Em mim

Não espere aquele amontoado de frases bonitas; hoje é só uma dor, e não vai passar, não vai ajudar a ninguém, porque não passa de dor.
Vou ter que mudar para outro quarto, outra casa, outra cidade. Não há mais um lugar onde eu possa ir que não esteja impregnado de lembranças suas, e elas estão me matando. Não tem como fugir, não adianta ir para longe, elas estão aqui dentro, e estão queimando. Não há mais cor onde você não está, não tem mais sorriso, não tem mais motivo para ficar. A única saída é fugir de mim.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Breve Tratado de Desistência

Ninguém está lendo esse tratado de desistência, então que se danem as convenções, eu vou falar uma coisa séria:
É que está doendo tanto... Essa falta que eu fui obrigada a aprender a sentir está doendo cada dia mais. Caramba, como dói.
E a memória é tão traiçoeira, que vez em sempre quando fico apenas quieta, tratando de respirar, ela volta à minha lembrança. Se eu estivesse atentando contra as leis da natureza, se estivesse pecando com consciência, até acharia justo algum castigo. O defeito é que mesmo eu fazendo nada ela insiste em me resgatar pelo pensamento para estragar minhas convicções. Ela vem assim, sorrateira, em cenas aleatórias, sorteadas para me fazer sofrer.
Cada coisa tão efêmera que eu fico me perguntando como pode cada mínimo detalhe de cada instante nosso ter ficado tão gravado em mim.
Olha, se soubesse o quanto essas lembranças iriam doer, teria evitado vivê-las.
Eu tento me concentrar em outras coisas, mas ela não deixa, ela fica ali à espreita fustigando cada neurônio; o dia inteiro atormentando minha mente. Ela é meu último pensamento antes de dormir, ela invade meus sonhos e já acorda martelando minha cabeça para interromper minhas forças.
Chega disso. Por favor, essa dor está me tirando a vontade de viver.
Ou ela se apaga da minha memória de uma vez por todas ou volta para mim. Se continuar assim vou acabar declarando desistência.

Angélica Manenti

Respostas

Não sei por quanto tempo ainda vou ser obrigada a guardar tudo isso que sinto. O sinal dela para me permitir continuar nunca chegou. As pessoas que me apoiavam passaram a me julgar. Os poucos em quem eu ainda confiava fizeram questão de me decepcionar. Assim eu fui vendo todas as minhas alternativas se esgotando, minhas angústias se calando dolorosas, como um nó apertado em minha garganta prestes a soltar um grito insuportável a qualquer instante. Vejo algumas pessoas arrotando atitudes que nunca tiveram coragem de demonstrar, me cobrando mudanças que não sabem como alcançar.
O tempo vai passando sem notícias, sem ressalvas, sem expectativas de recomeço. Nada pode ser corrigido, nada pode ser resolvido de tão longe. Falta uma chance de olhar nos olhos dela, de entregar minhas verdades. O que eu tenho feito é repensar. E esse revirar de ideias me tortura, me assombra até nos pesadelos, nem mesmo dormir dá chance para descansar dessa agonia. Agora eu me questiono se o tempo não pode ser um inimigo, se a cada dia que passa sem um avanço consistente não significa uma perda maior.
Se fosse verdade que ao final tudo se justifica, que o amor revela os caminhos mais difíceis para recompensar com a alegria da conquista, então bastaria gritar que ainda a amo; bastava dizer que durante todo esse tempo não consegui tirá-la do pensamento por um segundo sequer, e que nunca mais tive a mínima intenção de olhar para outro rosto que não fosse o dela, de desejar outro corpo que não fosse o dela. Que passo os dias buscando resposta para os pedidos que ela foi me fazendo e eu fui pecando por não saber responder antes. Que tenho medo de ir atrás das respostas para as minhas dúvidas e descobrir que a perdi de vez.
Achei que bastaria saber que sou o único grande amor da vida dela. Que os nossos poucos dias juntas foram os mais intensos de nossas vidas e que a sua memória nunca a deixaria desistir de mim, mesmo que calada. Que ao se deitar para dormir, a última lembrança que atravessa seu pensamento ainda sou eu e que aquele meu abraço tão seguro ainda faz falta nas madrugadas frias. Que o meu perfume ainda paira nos seus melhores sonhos, e em um futuro próximo quando ela planeja ser feliz, eu a estou esperando.
Ela não quer ouvir mais nada, porque nada mais a surpreende. Ela espera uma notícia nova, um pedido, uma reinvenção do amor que eu venho construindo para apresentar a ela quando a vida nos permitir. Ela espera o novo, a redescoberta do amor que não conheceu ainda, e eu aqui redesenhando meus sentidos para enxergá-la inteira e decifrá-la, para explicar cada sorriso, para sorrir a cada palavra.

Angélica Manenti