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sábado, 31 de julho de 2010

O Mal da Inércia


Ouvimos tantas desgraças que não entendemos quando vai aí uma notícia boa. Pegamo-nos absortos de tão conformados que aniquilamos as expectativas mais otimistas por medo da altura do tombo. Vamos assim, cegos, tateando as possibilidades mais assustadoras antes que nos cheguem as confirmações. Tanto para saborear melhor o alívio como para confortar o espírito que pensa já não merecer nada que o valha. Dói-me o mastigar das idéias mais mesquinhas que me fizeram adiar o contato, atrasarem meus pedidos de desculpas que eu devia, e assim fui ficando com os pesos amaldiçoados de tudo aquilo que me esqueceu.
Fui rebelde com os meus amores e os desperdicei por pura displicência. Queria recuperar muitas dádivas as quais me foram oferecidas, e que neguei; queria ter mais atenção com os meus e cuidar de ir tratando com mais carinho, mais admiração os que me cercam.
Senti, num lapso de entendimento, que estou deixando o tempo se gastar mal com brigas e um mau humor sem motivos. Queria corrigir as etapas que corrompi, antes que o remorso dê conta de me engolir. Mas agora, sentada aqui de mãos atadas e sem saber onde buscar os avisos do que se passa em cada canto onde deve estar alguém que amo, sem que esses o saibam – por faltar eu lhes ter confessado isso antes com palavras compreensíveis – vejo que me equivoquei demais, talvez ao ponto de não merecer as novas chances que aqui peço.


Written by: Angélica Manenti

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Chega de Alienação

As pessoas que morrem em tragédias naturais são apenas números, mas o filho da Cissa Guimarães faz fechar e pixar um túnel. Chega de hipocrisia, né, Brasil. E sabe do que mais? Para mim, uma nação que se deleita com tragédias na televisão e alimenta essa máquina mesquinha que é a mídia não tem o direito de reclamar se a barriga dói de fome. Venda a televisão para comprar comida!
Se o povo não fosse tão fissurado por casos como o de Eliza Samudio, Rafael Mascarenhas, sem esquecer a menina Isabela que perdurou na mídia o tempo necessário para que surgisse um novo caso e tantos outros que preenchem o noticiário de todas as noites; ou então falando em grandes tragédias, quanto alvoroço e falatório por conta do avião da TAM, dos aviões que derrubaram as torres gêmeas, do avião da Air France que caiu no mar. Esses são apenas os episódios do ar. Tem as chuvas do Rio de Janeiro, as enchentes de Santa Catarina, a Tsunami da Índia.
Polêmica, repercussão, assassinatos que viram novela aos olhos dos espectadores. E o valor da vida, onde fica?
Ninguém percebe que essas notícias não são para entretenimento? Isso só faz sugar nossa atenção, nos cerca de um clima desagradável, hostil. Como fomos nos tornar tão imbecis ao ponto de acreditar que o mundo em que vivemos, precisa ser repleto de tragédias para ser mundo?

Written by: Angélica Manenti

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Calmaria


Aos muitos que não nos abandonam durante a tempestade e formam esse grupo que sobrevive por meio da união.

Todo caminho que tomamos é incerto. Cada objetivo pelo qual batalhamos pode nos trazer surpresas incríveis, nos levar por caminhos fabulosos, nos impor obstáculos aparentemente intransponíveis ou resultados desanimadores. Mas todas essas adversidades e glórias precisam ser compreendidas como partes essenciais da estrutura que forma nosso caráter e ajuda a moldar nossa personalidade nos tornando mais fortes; como vigas que sustentam nossa coragem. Tudo é tão minuciosamente fundamental que é preciso acima de tudo saber detectar quando uma derrota vem com o intuito de nos proporcionar uma nova experiência, uma vitória de maior valência. Os dias tempestuosos são inevitáveis, mas eles são o pólo oposto aos dias de calmaria, e todo bem só existe quando confrontado por um mal.
Expostos todos esses entendimentos sobre as nuanças da vida, quero justificar a filosofia da introdução: muitos fatos determinantes têm me presenteado com recompensas as quais eu jamais imaginei que fosse conquistar, mesmo as desejando tanto. Sinto que é meu dever deixar as reclamações de lado hoje, parar por alguns instantes de questionar os desprazeres e dificuldades para enfim agradecer os bons ventos.
Essa é a prova de que mesmo uma alma calejada pelo inverno sofrido deve se acalmar e aguardar enquanto os céus se livram das nuvens mais pesadas.
Continua fazendo muito frio na Antártida, mas hoje amanheceu um lindo dia de sol e a paisagem é realmente reconfortante.

Post Scriptum: Agradecimento especial ao Teatro Mágico que me proporcionou uma grande alegria com a campanha de divulgação do novo DVD da trupe.

Written by: Angélica Manenti

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A Tempestade


Há uma desavença do tempo que sela o destino com uma gota ácida de ausência. Cada angústia faz parte dos presságios sobre o impedimento da felicidade; cada juramento desperdiçado é uma nuvem que se precipita para causar a enxurrada. Perdemos-nos em meio à tempestade.
Assim como cada século – quando firma suas marcas na história – envelhece e estraga consigo uma geração inteira, mancha o caráter dos seus filhos com seus delitos e seus maus hábitos; e logo tudo quanto se desencaminha acaba por morrer.
O vento sugere desgraças quando o céu se fecha em forma de ameaça: precisamos nos proteger. Amuletos, incensos, correntes de braços unidos e pedidos desesperados não podem mais nos salvar, agora que fomos corrompidos. O dia tem a cara do fim do mundo; a insegurança não irá embora quando nos conformarmos; a natureza não irá desistir de se vingar.

Written by: Angélica Manenti

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Fernando Anitelli apresenta: O Teatro Mágico, Segundo Ato

"Sem horas e sem dores, bem vindos ao Teatro Mágico..."
O texto de hoje tem uma temática diferente: nada de pinguins. Venho lhes apresentar, teimosos leitores, o novo DVD d'O Teatro Mágico. E sabe o que é o melhor disso? Qualquer um de vocês que ficar curioso para ver esse espetáculo sem par, vai poder baixar o conteúdo gratuitamente da internet, compartilhar com os amigos e tudo o mais. Vale muito à pena conferir também por conta do engajamento com essa luta magnífica pela arte independente e pela música livre - isso tudo vai estar bem explicadinho na faixa extra do DVD que será um documentário sobre a música livre. Chega de censuras, de burocracia, O Teatro Mágico quer que o povo tenha acesso à cultura sem restrições.

Eu queria ver mais dessa dignidade no mundo, antes que fiquemos todos cegos do espírito como os doentes de Saramago; queria apreciar mais música humilde como esta, antes que caia no desespero de ter perdido o melhor da vida enquanto buscava a erudição, como o Harry Haller de Hesse; queria tomar mais gosto pelas palavras simples e me agarrar a elas como a maior das esperanças, feito a Liesel Meminger que roubava livros, do Markus Zusak; queria que outros tantos me ensinassem a questionar mais a vida assim como o filósofo-pai de Hans-Thomas o ensina n’O Dia do Curinga do Jostein Gaarder; queria ter a valentia para encarar o mundo com todas as suas batalhas como se fossem as belas histórias de cavalaria do nobre Dom Quixote, de Cervantes; queria descobrir a beleza da natureza inocente como aquelas crianças que encontram a Nárnia de C. S. Lewis; queria a simplicidade dos nossos brasileiros-guerreiros descritos nas páginas-veredas do Guimarães Rosa; queria ver mais gente reivindicando seus direitos com a força de vontade daqueles defuntos infelizes, vítimas do Incidente em Antares do Veríssimo; queria o suor dessa gente pobre que nunca desiste ardendo na pele de quem rouba do nosso país, tanto quanto doía no nordestino Fabiano e toda sua família de Vidas Secas, do Graciliano; Sentia que talvez fosse necessário evocar a magia do mundo de Harry Potter para dar um empurrãozinho nessa luta, mas percebia logo que isso era distante demais da nossa realidade; queria mulheres de fibra que não se entregam antes de conquistar seu devido lugar como a poetisa Adélia Prado, ou como a perturbadoramente genial Clarice Lispector; faltava a poesia do Quintana para embelezar a obra da vida, e a poesia do Drummond para retratar as imperfeições indispensáveis; faltava se concretizar nos corações de verdade o amor guardado no coração do Caio Fernando Abreu. Faltava tanta coisa.
E eu encontrei um pedacinho disso tudo junto numa coisa só, uma centelha de cada um desses personagens admiráveis, um bocado a mais de esperança no espetáculo que é O Teatro Mágico.
E é tão bom saber que vai ter muito mais dessa fantasia, mais poesia, mais arte feita com o coração para tocar no coração; é bom demais poder encher de alegria os olhos e os ouvidos com mais um DVD da trupe. E o DVD é deles, é seu e é nosso, porque o Teatro Mágico faz para o público.

Written by: Angélica Manenti
mais informações no site: http://oteatromagico.mus.br/

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Noite sem Marcas


Não me leve para casa ainda, quero esperar o sol nascer para rever aquelas cores. Ainda consigo sentir o gosto do seu beijo no último anoitecer e o sabor do sangue em seus lábios mordidos.
Todos nós temos uma doença que viola nossas lembranças e nos consola; uma inspiração que nos tortura; uma mazela que intriga todo sonho e recobre com uma névoa espessa toda nossa coragem.
Você e eu dividimos a mesma pele quando nos matamos para juntar nossas almas no sacrifício, mas tudo muda muito rápido e amanhã podemos estar vivas outra vez; então aproveite esse momento e aprecie a queda, sinta o cheiro enjoativo da esperança e permita se extinguir. Fomos nós que pedimos para não sermos mais feitas de carne, osso, sangue e lágrimas; uma súplica impensada nos atirou às cobras. Por quanto tempo ainda vou ter de esperar? Eu a vi se retirando, mas ainda restou em mim uma veia pulsando enquanto eu me deparava com o chão sólido e tomava consciência da dor que viria com o impacto. Eu fiz isso tudo por você e agora descubro que o amor não se resolve só porque chegamos ao fim.

Written by: Angélica Manenti

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Limite da Ausência


Estes diários estão saturados de confidências sobre você; nossos amigos não suportam mais me ouvir contar histórias sobre como você desapareceu; eu não agüento mais conviver com o flagelo de um amor tão torto e improvável. Como pôde perdurar por todo esse tempo sem que um mínimo de realidade o sustentasse?
Não há sequer um dia que essa esperança arrogante não me tome. Às vezes um ínfimo raio de lucidez tenta me alertar de que eu preciso me desprender desse mal que se instaurou até na mais insignificante célula do meu corpo; uma semente venenosa que espalhou suas raízes dentro das minhas veias e se alastrou pela minha corrente sanguínea. Eu me pergunto quanto tempo falta para o amor se esvair por completo e se retirar de mim. Tento me provar que tudo não passou de um desatino e a liberdade virá logo em seguida da sanidade. Parece-me que admitindo o fracasso eu conseguiria apagar com mais propriedade essa desavença entre meu coração e minha razão; e sóbria das condições precárias da minha paixão imaginária eu lhe arrancaria da minha pele e sangraria até que todo o amor estivesse derramado, escorrendo pelo ralo como uma porção de água suja; você não iria mais manchar minhas roupas nem ocupar meus cadernos com todos estes apelos; não roubaria mais nem uma hora do meu sossego e eu não seria mais vista como cega.

Written by: Angélica Manenti