Powered By Blogger

terça-feira, 31 de maio de 2011

Degelo dos Pólos


Eu poderia reviver aqueles dias para sempre, e poderia até tomar a liberdade de amá-la cada dia mais, mesmo que ainda tenhamos a nossa secreta e silenciosa batalha contra o medo. Temos muitas cicatrizes do passado, lembranças mal resolvidas e uma história repleta de idas e vindas.
Mas eu já posso encontrar dentro de mim os motivos mais absurdos para precisar da sua presença: gosto do seu jeito descompromissado com a vida, sempre cheia de energia, buscando diversão e arrumando pretextos para parecer fria e desinteressada; gosto quando você se aquieta para conversar comigo e eu me sinto como se fosse a única incrivelmente capaz de lhe fazer sossegar por alguns instantes.
Você é o abraço certo para atravessar o inverno, aconchegante e completo, e eu fico querendo parar o tempo nos seus braços para guardá-la num estreito da memória onde as horas nunca mais voltariam a passar.
Você já atrapalhou todos os meus planos de solidão ao encontrar uma brecha no oceano congelado em que eu encerrava meu coração, e agora que voltei à tona e recuperei meus sentidos eu quero as sensações mais intensas: quero sentir nosso sangue pulsando nas veias depressa, no mesmo ritmo perigoso dos amores mais arriscados; quero sua imagem mais nítida nos meus sonhos mesmo que seja para me atormentar; quero seu cheiro impregnado em meus pulmões me impedindo de respirar; quero o gosto do beijo que anestesia meus membros e me deixa inerte; quero suas impressões digitais gravadas na minha pele como ferro em brasa. Só não me deixe voltar ao inferno de ter que passar os dias tentando lhe esquecer.

Writen by: Angélica Manenti

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Vinte e três de maio, onde estiver


Muitos podem questionar esse amor, eu mesma já tentei de forma totalmente inútil compreender como pode um sentimento se manter vivo por tanto tempo e em circunstâncias tão adversas.
Primeiro foram as dúvidas, a distância, o medo da ilusão; foram tantas idas e vindas, tantas datas que ficaram para trás e por tantas vezes a única coisa que eu desejei foi poder estar com você para fazer desses momentos os mais especiais. Por tantos anos eu convivi com a agonia de ter as mãos atadas, de não poder fazer nada pela nossa história. A pressão das escolhas que poderiam machucar tantas pessoas, somada ao amor mais intenso que eu já senti.
Eu só fiz planos para o resto da minha vida ao seu lado, e acabei completamente sem rumo quando você foi embora. Já passaram alguns anos desde a sua partida e eu continuo sem saber o que aconteceu tanto antes quanto depois de você na minha vida. Mas eu guardei aquelas nossas datas, para me doer sozinha; reservei todos os dias vinte e três de todos os meses de maio para lhe dizer minhas melhores palavras, em silêncio; vou conservar todos os abraços de cada um dos seus aniversários que passarem em branco para lhe entregar um dia.
Eu nunca pude lhe cobrir de presentes caros, eu só podia oferecer palavras – como faço agora – e fico imaginando se em algum lugar do mundo, onde quer que você esteja, se você vai ler essa confusa carta de aniversário e aceitará como um presente simbólico.
Talvez com o tempo eu possa aprender que essa coisa de felicidade não foi feita para nós; pode ser que você esteja muito melhor no caminho que escolheu seguir e, considerando que o amor é o constante exercício do desapego, eu a amo o suficiente para um dia aceitar que você não pode mais voltar.
Desejo sinceramente que você esteja bem e que ainda seja capaz de encontrar bons motivos para sorrir. Que você comemore, que dance, que ame e lembre de mim bem vagamente em um canto esquecido da sua memória; não quero ser uma lembrança triste, mas quero que me sinta sempre por perto, como nunca pudemos estar antes.

post scriptum: este texto é uma esperança de que meu presente e minha presença sejam entregues, onde quer que ela esteja - Amanda.

Writen by: Angélica Manenti

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Velha Moldura


Não vou falar de amor porque ainda não consegui definir o que existe entre nós. Você ainda se contenta com essa vida mambembe, cercada de amores de letreiros luminosos, cada qual mais teatral que o outro e sem um pingo de verdade, enquanto fica tentando provar para si mesma que não me quer por perto. Mas você nem consegue disfarçar o quanto se sente segura ao acordar de repente no meio da noite e ver que ainda estou ali deitada ao seu lado, cuidando dos seus pesadelos. Você acomoda a cabeça no meu peito para poder sentir melhor o meu perfume misturado ao cheiro da festa que eu abandonei para ir até você. Eu fico querendo respirar o mais profundo que puder aquela sua ternura inesperada que não se encaixa na sua rebeldia.
Você tem esses raros momentos em que aquieta sua selvageria, e quando eu consigo um pretexto para entrar na sua vida eu preciso estar sempre alerta, ciente de que logo você irá escapar. Arredia como é, está sempre fervilhando idéias de fugir, sempre querendo se libertar.
Eu tento explicar a bagunça que você faz na minha vida, mas você não gosta de escutar e vive dizendo que é impossível lhe entender mesmo. Eu tenho algumas opiniões mal formadas: acho que você tem medo de se submeter aos amores e às dores de ser feliz, está acomodada com sua falsa liberdade e com a leveza de ser superficial. Talvez você seja aquele tipo de pessoa que sofre ao encontrar a paz, que prefere o barulho ensurdecedor de procurar por nada no lugar errado; talvez você não sinta necessidade de abraços e beijos ou não dê importância para a saudade. Você nunca tem resposta para as questões sobre nós e acha que é um capricho tolo meu querer saber quando é que eu vou poder lhe ver de novo.
Mesmo tão incontrolável você parece fazer súbitos acordos de paz comigo quando reconhece as vantagens de estarmos bem: diz que sou boa em lhe fazer sorrir, que fui a única que já conseguiu lhe deixar constrangida e você até ficou impressionada com a cor que os meus olhos têm pela manhã.
Reencontrar você é perceber o quanto está mais bonita - talvez um tanto mais sincera - e que adquiriu alguma capacidade nova de sonhar que antes eu não conhecia; é como reviver o passado, mas cometendo só uma parte daqueles velhos erros.

Writen by: Angélica Manenti

sábado, 14 de maio de 2011

Mundo Mudo


Ah, mundo.
Tanta gente só e nós aqui nos desgastando na ausência de palavras.
Tão pouco a dizer sobre tudo que ainda falta entender.
Mundo mudo,
Teu silêncio me ensurdece.
Não quero dormir sem antes ouvir tua voz.

Ah, mundo.
Atmosfera onde faltam as verdades,
Eu me reviro com as curiosidades,
Esgoto meu discurso.

Ah, mundo de vaidades,
Já nem liga se no meu sorriso se estampa tua saudade.
Mundo discreto,
Mundo covarde.

Mundo mudo,
Descompassado e repleto,
Caminhos por onde não me arrisco,
De pés descalços num deserto.

Ah mundo distante,
De lonjuras e serenos
Sinto falta dos nossos segredos,
Ainda posso sentir o teu cheiro.

Mundo que se revela,
Um horizonte a se estender.
Estradas, vielas,
Eu escondi tuas cores para te proteger.

Ah, mundo de exageros,
Desperdício de sons e sofrimentos.
Lágrimas derramadas ao acaso,
Separando lembranças e momentos.

Writen by: Angélica Manenti