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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Mais uma carta

Hoje acordei decidida a colocar no papel tudo aquilo que tenho vontade de lhe dizer, como se isso fosse descarregar um peso que venho trazendo em meus ombros. Tenho milhares de coisas para fazer, mas você ocupa meu pensamento e eu não consigo começar nada enquanto não alivio a angústia que me consome.
Eu já procurei uma centena de respostas e explicações para o que aconteceu, mas tudo continua às escuras – talvez porque eu não queira aceitar o pior. O fato é que vivemos os dias mais incríveis, e eu estava segura de que eram os mais especiais para você também. Não sei explicar, mas era um amor tão intenso que as pessoas diziam que podiam até sentir quando estavam perto de nós; eu via em seus olhos uma satisfação de quem estava finalmente conhecendo o amor puro e verdadeiro. Eu sabia que tinha em minhas mãos o poder de mudá-la, mas queria você exatamente do seu jeito. Eu me sentia como um domador de feras selvagens quando conseguia manter você quieta dentro do meu abraço, e sabia que nunca alguém tinha alcançado tal feito com você além de mim, e ninguém conseguiria repeti-lo. Eu ficava observando você com toda aquela energia, de queixo caído mesmo, e eu realmente tenho saudade de respirar aquele ar de vida. É engraçado como aprendi a gostar até da sua cidade, e sinto tanta falta dos bons momentos que vivemos lá.
O problema é que acabou, e eu continuo me perguntando por quê. Você veio com uma justificativa absurda, e eu achei que quando você percebesse o engano iria voltar para mim. Mas não, quem errou fui eu. Reafirmo que não lhe traí, como você chegou a acreditar, até porque eu sequer conseguia desviar meus olhos e meu pensamento de você. Eu estava tão imersa no sonho que idealizei com você que chegava a ser absurdo pensar haverem outras pessoas no mundo. Aí eu penso que devo ter errado muito mesmo foi por lhe amar demais – tudo o que é demais se torna prejudicial. Sei lá, eu acho que estraguei você. Eu lhe enchia de presentes, de carinhos, e fazia todas as suas vontades, mas não era por querer comprar o seu amor; era o meu desejo e necessidade de fazer tudo por você, e de tornar seu mundo perfeito, como se lá fora pudesse deixar de existir. Com você eu até era capaz de gostar de mim, porque eu podia fazer qualquer coisa, até mesmo voltar no tempo e reviver o melhor dos dias. Então eu penso se essa minha fantasia de romance de conto de fadas foi o que lhe enjoou, ou se eu fiz pouco e me perdi tentando acertar demais. Às vezes eu lembro de algumas brigas que tivemos, dos momentos em que me chateei por motivos tão pequenos ou cobrei algo que não era sua obrigação, e penso que isso pode ter me arruinado; mas também lembro de você me confortando ao dizer que namoros são assim mesmo, e que as brigas eram parte essencial para nos sentirmos vivas. Realmente, depois das brigas era muito bom tê-la de volta e ouvir aquelas palavras que, se eu contar, ninguém acredita que foram ditas por você.
Eu queria que você me explicasse algumas coisas, mas tenho medo de acabar ouvindo justamente o que tanto me assusta: que o amor simplesmente acabou, assim, sem um motivo ao certo – porque eu me esforcei tanto para fazer acontecer que não consigo enxergar o final. Então eu fico procurando pretextos, pondo a culpa na sua imaturidade, na sua família, na sua falta de liberdade, nos céus, na inveja alheia, até invento medos que eu nem sei se você realmente tem só para dizer que lhe faltou coragem de lutar por nós.
Suas últimas palavras e seu olhar raivoso na despedida contradizem todas as lembranças que eu tinha de nós. Sei que a vida foi dura com você e lhe fez acreditar que as pessoas não valem o esforço que custam, sem exceções, mas eu quis ser a diferença para lhe oferecer um pouco de esperança e alegria em meio ao caos do seu dia a dia. A sua resposta não foi recíproca. Foi tão cruel e hipócrita da sua parte não dar a mínima importância ao meu pedido de desculpas – por algo que eu não fiz – que eu senti vontade de gritar com você, usar de violência para ver se à força eu lhe fazia entender. Às vezes me arrependo de não ter tentado, por pensar que podia ter dado certo; talvez você estivesse impaciente com a minha ausência de reação. Cheguei a pensar que você me maltratava só para ver se eu tomaria uma atitude; mas eu, no auge do meu amor incondicional a perdoava e continuava empurrando sua indiferença para debaixo do tapete.
Depois, quando eu descobri que você tinha outra pessoa e fiquei ainda mais dilacerada por dentro, as minhas possibilidades de entender eram mais escassas: ou você me trocou – por não amar mais -, ou me substituiu – por amar demais e precisar esquecer. Só de pensar, ambas as idéias me consumiam em dor.
Eu queria ter registrado muitas coisas que você me disse para um dia eu me revoltar, pegar todas as suas frases em minha defesa e exigir por bem ou mal que você cumpra com o que falou.
Lembra quando eu fui tentar impedir que você viajasse? Eu estava sentindo algo tão ruim dentro de mim que sequer conseguia falar em meio às lágrimas e soluços; você me confortou dizendo que eu era o amor da sua vida e que não iria deixar de me amar quando voltasse. Pois é, mas você voltou diferente e meus medos se concretizaram. Você estava distante, e hoje eu me pergunto se foi nesse ponto em que nos perdemos. Também guardei sua voz me dizendo, dias depois, que independente de estar comigo ou não, eu sempre fui, era e sempre seria o amor da sua vida. Essas palavras alimentam em mim uma esperança de que talvez deixando o tempo passar você obrigatoriamente voltará para mim, por determinação do destino que nos fez assim, perfeitas uma para a outra. E eu quero com todas as minhas forças conservar esse amor intacto, para estar aqui esperando, como prometi, quando você se der conta de que o amor tem sim uma razão de ser e que é essencial para a vida. Você pode estar machucada e desenganada agora, porque os acontecimentos e a pressão da vida foram muito mais pesados nos últimos tempos, mas a sua visão sobre isso ainda vai amadurecer, assim como muitas outras tempestades dentro da sua cabecinha inocente. É claro que eu tenho medo de estar me iludindo, até já me desesperei ao ser alertada sobre o risco que estou me propondo a correr; já fui aconselhada a desistir e já ouvi de você mesma que definitivamente acabou, mas não consegui acreditar nesse radicalismo todo acompanhado de um olhar tão pesaroso e de uma voz tão embargada. Eu sei que é mais saudável seguir minha vida e lhe esquecer, desistir de uma vez por todas e não ficar aqui inerte, esperando que um súbito choque de realidade a faça admitir que ainda me ame.
Também sei que não devo depositar minhas chances de ser feliz todas sobre você, mas eu ando mesmo sem razão para me animar com a vida, querendo desistir de carregar tanta responsabilidade sem entender muito bem para onde estou indo. Essa sensação de culpa misturada à certeza de ter sido única para você é que me tortura.
Talvez um dia eu reúna coragem suficiente para lhe entregar esse desabafo – que pode parecer ridículo, mas é cheio de verdade – mesmo ainda incerta sobre o poder das palavras. Pode ser que elas despertem algum sentimento em você, que seja o tédio ou a compaixão, mas por favor, não fique assim tão indiferente.

Angélica Manenti



“Palavras são, na minha nada humilde opinião, nossa inesgotável fonte de magia. Capazes de formar grandes sofrimentos e também de remediá-los.”

Albus Percival Wulfric Brian Dumbledore

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Afaste-se de mim


Já escrevi tantas bobagens para tentar me confortar, mas sempre fico medindo as palavras, assim como passei tanto tempo ponderando minhas atitudes, tomando cuidado com o próximo passo para não magoar alguém ou no mínimo não incomodar com a minha presença. Depois eu tento encontrar o ponto em que errei, fico egoísta com a minha culpa e descubro que sou mesmo uma covarde sem escrúpulos, que fico remoendo mentiras dentro de mim para não deixar extravasar minha fúria.
Fui discreta quando você me pediu, fiz alarme do nosso amor quando você queria que o mundo soubesse de tudo; ignorei as desavenças do passado e continuei engolindo os tropeços da sua imaturidade tardia; gostava de lhe ver como um mistério e achava graça do seu jeito rebelde. Eu mal cabia em mim quando você abria um sorriso; e você tramando meu desespero, querendo se esquivar e me deixando à deriva. Você que era tão esperta e sempre esteve fadada a fugir de mim, desatar nossa história, quis esmagar melhor meus destroços antes de partir; quis deixar cicatrizes, me desequilibrar.
Eu baixo minhas armas, você venceu. Estou desistindo, admitindo minha fraqueza. Eu realmente criei preguiça do nosso amor. Viver aos tropeços com você me cansou, eu não tenho mais fôlego para isso. Não espero que você volte, porque isso me custaria muita vaidade. Não quero mais lembrar nossos bons momentos, porque isso sempre me estraga o sono. Não quero discutir nossa relação irreal, porque você foi tão fraca e doentia ao me deixar sem uma explicação e ainda ter saído cheia de razão. Eu era muito pequena perto de toda a sua beleza e ousadia, eu não tinha chance perto de você. Fui me encolhendo em minha insignificância e me curvando às suas ordens. Eu me humilhei sabendo que iria terminar no mais fundo dos poços. Eu merecia cada instante dessa dor, mas por favor, fique longe, eu quero minha solidão por inteira.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Lágrimas Vermelhas


Admito que esteja acostumada a viver de ausências, mais do que com explicações sensatas e desculpas esfarrapadas. Não nego que já tenha sentido amor antes, e perdi mesmo. Também sobrevivi a isso, eu sei, com as minhas cicatrizes, minhas dúvidas e uma longa angústia. Deixei que escapasse, sem motivos desisti, permiti que desaparecesse. Fiquei aqui sem respostas para as minhas questões mais pertinentes, reclamei direitos e desesperos, roguei pragas contra esse destino trapaceiro que só faz me colocar em maus lençóis. Mas você, tão fraca e ao mesmo tempo tão cheia de mistérios, você que se esconde das próprias verdades achando que pode evitar se ferir, eu a desvendei. Eu descobri seu ponto fraco e compreendi suas dores; apoiei suas loucuras e lhe ofereci as ferramentas para tomar o caminho certo. Você está perto o suficiente para me machucar, e continua vívida nos meus pesadelos. Você não tomou o rumo oposto para se desfazer de mim rapidamente, foi me deixando ficar ao seu lado enquanto a espero mudar de ideia, mesmo sabendo que isso talvez nunca aconteça.
Há muito não me sinto bem, e sei que essa doença é consequência de alguma parte minha que não está mais aguentando viver sem você. Está difícil respirar, tornou-se terrível encarar o espelho, como se cada pequena marca em minha pele tivesse sido provocada por você.
É meu corpo que não suporta mais, são minhas pernas que se negam a me sustentar, só porque eu nunca mais amanheci com você.

Angélica Manenti

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Soltar-se


Quero desistir de você, esquecer essa maldita esperança que arrasta meus dias ao longo de uma agonia intolerante, que não escolhe hora nem lugar para se manifestar, que suga minha energia e me faz parar por completo. Queria interromper a vida ao meu redor, estragar meu destino, mas cada vez mais mergulho de cabeça na rotina sufocante de pensar em você e tentar entender o que nos trouxe ao final.
Pouco a pouco vou sendo tomada por lembranças que ardem na minha memória e me provam que é impossível continuar a escrever minha história sem você. Não funciona mais desabafar; tentar lhe convencer de que o amor vale a pena já se mostrou inútil, porque o mundo lhe maltratou e eu acabei levando a culpa pelos sentimentos mesquinhos dos outros. Eu que sequer consigo expressar em palavras o amor e a dedicação que guardei para você e eu que sempre batalhei para manter meu caráter, estou pagando pela injustiça do mundo que a fez tão desacreditada.
Meu respeito por você é a única coisa que me impede de atear fogo em sua cidade, de lhe fazer entender à força que não pode haver outro caminho para nós a não ser aquele que começamos a trilhar juntas, e que só foi interrompido por um desatino do acaso. Sei que errei ao tentar acertar demais, mas não posso ser condenada por querer fazer do nosso romance o mais perfeito e impressionante já visto.
Queria fugir, me manter a quilômetros de distância de você, mas quando lembro o seu sorriso e aquele olhar encharcado de dor, que arde em lembranças ao encontrar os meus olhos, eu perco a razão, atravesso as palavras e acabo repetindo tudo aquilo que jurei guardar só para mim. Queria ficar o tempo todo perto de você, mas estou aprendendo a gostar das despedidas, porque elas são meu pretexto para ganhar um abraço e poder senti-la de novo, mesmo que por breves instantes, e sentir sua saudade sufocada transparecendo por descuido.

Angélica Manenti

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vestígios


Eu sei que já deveria ter me acostumado com a rotina de sentir sua ausência, mas você ainda me dói como uma ferida recente; eu ainda me deparo com vestígios seus por onde menos espero, - acho que percorremos ruas demais juntas nesta cidade – sua memória acabou gravada pelo acaso ou por engano em todos os meus caminhos cotidianos, e eu me sinto sufocada, onde quer que eu vá.
Eu penso o tempo todo em ir lhe procurar, bater à porta da sua casa, telefonar, esbarrar em você por alguma rua que escolhi de propósito onde você costuma caminhar. Falta muita coragem, ou talvez eu tenha inventado pretextos suficientes para me acomodar com essa situação e me convenci de que nada disso poderia funcionar mesmo. Afinal, você já escolheu me colocar para fora da sua vida, e eu, no extremo do meu amor e respeito achei por certo me sacrificar e preferi me retirar pacificamente.
Mas às vezes me pergunto se não teria sido mais confortável se tivéssemos terminado com violência e algumas ofensas imperdoáveis. Ambas merecíamos uma lição e alguns hematomas para nos fazerem lembrar as conseqüências do egoísmo. Eu precisava ser confrontada para aprender a não ser tão fraca e você precisava de um tapa na cara para abrir os olhos e enxergar o absurdo que estava prestes a cometer. Deveríamos ter despertado o ódio uma na outra, porque essa esperança ridícula que tem me mantido pode acabar agravando a minha dor.
Também passo os dias imaginando no que você está pensando; com que tipo de sentimentos você lembra de mim – depois de tantos momentos intensos, estou certa de que você deve se atrapalhar com as nossas memórias de vez em quando – penso se você guardou algum amor ou se já tinha deixado de sentir e se cansado de mim muito antes de tudo acabar.
O problema é que você esteve no meu quarto, na minha casa, nos meus delírios antes de dormir. Você deixou seu cheiro gravado naquela minha camisa que adorava vestir ao acordar; sobraram as nossas fotos nos meus arquivos, seus números de telefone na minha agenda, as cartas que eu escrevi pra você e nunca entreguei; seu nome se repete por coincidência na novela, nas rodas de conversa, dentro da minha cabeça. Você se tornou um fantasma, gélida e impaciente, invadindo meu espaço, e eu a conservei de modo involuntário só para me confortar nos momentos mais graves do vazio.

Angélica Manenti

sábado, 27 de agosto de 2011

Algum Desabafo


Você alterou minha rotina, rasgou meus itinerários, embaralhou meus horários. E eu que ainda nem consegui me acomodar nessa pele, eu que detesto a estabilidade e admiro o desequilíbrio da sua personalidade, queria estar ao seu lado recebendo suas investidas contra mim, suportando a dor da sua indiferença e vibrando com as suas raras demonstrações de afeto próximas às despedidas.
Mas não quero escrever, não quero sentir por agora. Dentro de mim as palavras me maltratam, a curiosidade me flagela, meu espírito inquieta-se no silêncio da sua indecisão. Queria arrancar de você uma confissão, exigir meus direitos que por conseqüência da liberdade que eu lhe dei foram corrompidos. Quero meus dias de paz outra vez, sem ter que disfarçar essa melancolia degenerada que me assola. Devolva meus livros, minha memória, meus sorrisos, minha alegria. Bata a porta na minha cara, desperte meu ódio antes que esse amor impossível se torne um punhal assassino da minha história.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ironia do Destino


Eu estava lhe escrevendo essa declaração de amor quando recebi sua mensagem terminando comigo. Deve ser isso a tal ironia do destino da qual eu sempre ouvi falar.
Sei que ainda há muito por dizer – eu não estou renegando as palavras, afinal elas sempre me socorreram tão bem – mas eu estava tão imersa em você que sequer conseguia escrever, porque é a primeira vez que tenho esses sentimentos tão reais e concretos, que amo com toda a capacidade que havia reservado dentro de mim. Com você eu deixo de lado a vergonha e os pudores, me sinto livre para me entregar por inteira e respirar a eternidade dessa dança sem ritmo, esse romance insensato que já estava escrito muito antes de nos aceitarmos.
Demorei muito tempo para encontrá-la, e por todos esses anos eu lamentei estar gastando a vida sem distribuir os carinhos que guardava comigo. Por algumas vezes cheguei a me doar a quem não merecia, corri riscos sem ter nenhuma garantia e sempre acabava me livrando de algum jeito ao perceber que não sentia aquelas borboletas no estômago das quais falavam nos filmes. Queria aqueles calafrios e a sensação de não conseguir sustentar as próprias pernas; queria tremer, gaguejar, perder a respiração e a consciência, me atrapalhar com as palavras, e sempre acabava me metendo em relacionamentos mornos, que me cansavam na primeira discussão.
Com você eu tenho aquelas idas e vindas que apavoram, e a cada noite que me deito sem o seu carinho, sem as suas mãos delicadas percorrendo meu rosto, eu me preencho um pouco mais de amor e saudade; e a cada final de semana eu a encontro ainda mais linda, mais rebelde, mais incrível, e vou aos poucos me encaixando à sua maneira descompromissada para voltar a descobrir a minha essência. Com você eu volto a ser criança, esqueço que a vida pode ser cruel e que exige responsabilidade; com você o tempo pára e perde a importância; com você, cada instante é feito de intensidade, sempre beirando o início e o fim; são beijos encharcados de lágrimas, são brigas estragadas com sorrisos, são partidas adiadas pela vontade irresistível de ficar um pouco mais. E o amor é feito da nossa amizade nos momentos difíceis, da angústia nas horas de espera, da minha alegria ao vê-la furiosa só porque assim eu a percebo tão humana.
Lembra daquela nossa conversa demorada no sofá da sala? Eu ali fingindo ser uma rocha, querendo tomar para mim todas as suas dores e livrá-la das suas sinas; eu tentava entender cada centímetro da sua raiva, eu queria acalmá-la, talvez abraçá-la, mas se eu fizesse isso podia acabar fazendo escorrerem suas lágrimas. Não era um bom momento para oferecer carinhos repentinos, eu precisava me manter firme e mais nada. Nos seus olhos eu via uma esperança teimosa, querendo acreditar que tudo iria terminar bem, que você só precisava de alguém para lhe ouvir e não de alguém que lhe oferecesse o ombro para permitir que você se partisse em pedaços confessando seus segredos num instante de fragilidade.
Eu sei que não devo alterar os seus sentidos nem interferir na freqüência dos seus sofrimentos impondo minha presença no meio dessa tempestade que está dentro de você. Eu a encontrei assim, decepcionada com as injustiças do mundo e preciso estar ao seu lado para lhe apoiar, para fazer valer os seus direitos e ajudar a amadurecer as suas dores. Preciso aceitar as dificuldades que virem a transpor nosso caminho e manter seu pensamento focado nas escolhas certas. E eu estarei aqui, lutando por nós, mesmo quando tudo parecer estar perdido.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O mundo de cima do muro


Perdoem-me por magoar mais uma vez o papel com estas palavras escurecidas de tristeza e carregadas de melancolia. Sei que o mundo espera de nós a sensatez: quer-nos com os sentimentos amenos, com as dores muito bem superadas, com as alegrias contidas e longe dos extremos. O mundo nos quer no meio, em cima do muro. Quer-nos verdadeiros e cheios de vida, mas espera que disfarcemos nossas agonias e sejamos discretos; quer-nos confiantes em nós mesmos e pouco prepotentes, afinal, o egocentrismo pode nos tornar arrogantes e a insegurança mostra que somos fracos de espírito. A própria beleza pode ser um incômodo, gerando a inveja, mas a ausência dela pode significar um deslize, atestado de desleixo.
Um mundo de exageros exigindo de mim equilíbrio; a contradição pedindo que eu me decida e assuma um dos lados; a vida injusta e cheia de sentenças definitivas me dizendo para não me desesperar com a dor, pois esta se dissipa com o tempo, e que nenhum castigo é eterno contanto que você não esteja almejando a eternidade. E é essa mesma vida que nos furta o tempo sem piedade, que nos faz alcançar o limite do nosso desgaste para podermos buscar o descanso. Os horários sem trégua, as incertezas sem medida, as lembranças sempre tardias.
Faltam as mãos para nos segurar, mas sobram os olhares mesquinhos a nos vigiar e os dedos sujos apontando as falhas alheias. Da própria desgraça ninguém se dá conta, nos defeitos que carrega ninguém repara; mas no próprio drama todos querem ser levados a sério, querem mostrar o quão autênticos são seus sofrimentos.
Em meio a toda essa urgência de decência e humildade, ser uma contadora de histórias pode me comprometer; ser romântica pode no máximo me render um rótulo de carente, ser humilde sempre vai soar forçado, dar muitas explicações é coisa de gente que acha que sabe de tudo. E assim voltamos à estaca zero sempre que tentamos apressar o fim.

Angélica Manenti

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Ditadura do Fanatismo


Estou indignada e cansada de respeitar a quem não me respeita, então vou soltar o verbo mesmo, doa a quem doer; e se não agüentarem ler até o fim é porque já foram cegados pelo fanatismo.
Sinto vergonha da humanidade quando me deparo com fanatismos. Refiro-me a todo tipo de idolatria: de artistas, de líderes e principalmente o fanatismo religioso. A idolatria é o câncer do mundo.
Hoje trago um recado para vocês, fanáticos religiosos: a verdade não cai do céu e não lhes pertence. Sequer existe uma verdade única e suprema; a verdade é individual e cada um tem seu próprio conceito de felicidade. Vocês não podem escrever as regras do mundo de acordo com as suas crenças. Isso é a hipocrisia e a falta de caráter, condutas estas que vocês, acostumados a tratarem-se como “irmãos”, dizem repudiar. Querem ter a palavra, mas são asquerosos e mesquinhos em suas atitudes.
Basta um olhar sobre a história: há alguns séculos a Igreja Católica dizimou milhares de vidas que não seguiram à risca sua doutrina durante a Santa Inquisição: fogueiras ardendo em brasas humanas, máquinas projetadas para torturar e matar, permissão para falar e agir somente de acordo com os preceitos da Igreja, sujeitos a castigos extremos, e tudo em nome de Deus. Mas que Deus é este, afinal? Um Deus que dizem ser tão bom e generoso, mas que exige sacrifícios e despeja catástrofes sobre sua “tão amada criação”?
Mas não precisamos olhar para o passado, porque os absurdos não terminaram com o fim da Idade Média. O atual Papa, entidade suprema da Igreja Católica e de grande influência na política mundial, acredita que o sexo deve ser praticado apenas para fins de reprodução e, por conseguinte repudia o incentivo ao uso de preservativo. Grande Papa e grande colaborador da propagação do vírus HIV – “que se danem as vidas que poderiam ser salvas, Deus não quer que vocês trepem porque é muito feio” – soa exagerado dito com essas palavras, eu sei, mas o Papa só usou eufemismos, a mensagem era exatamente essa. E o mundo se submete aos delírios de um hipócrita que tem a mente tão limitada que é incapaz de enxergar o problema que pode criar. Um alienado divino.
Também não precisamos ir muito longe; no nosso Brasil a coisa vai de vento em popa: o maior veículo de alienação de massas – a Rede Globo de televisão – boicotou o núcleo gay da novela das oito – que começa as nove – e manteve apenas o personagem gay do núcleo de humor. Até aí nós entendemos tudo, Rede Globo, “gay é palhaçada”. Para mim está claro que isso é medo de perder seu público cristão, mas espera um pouco... Não são esses mesmo cristãos que se divertem com personagens viciados em drogas, mulheres vulgares, vilões maléficos e sanguinários, corruptos, bandidos e até mesmo clones humanos? Esses cristãos que abominam o Amor – com letra maiúscula mesmo – entre dois homens ou duas mulheres?
Tenho vergonha de um país como o nosso que declina diante da vontade absurda de um grupo de fanáticos, cegos de espírito; um país que prefere ver seus cidadãos – que deveriam ser iguais perante a lei – serem espancados e mortos por amarem alguém do mesmo sexo, a enfrentar a arrogância daqueles que justificam tudo “em nome de Deus”. Gays são agredidos na rua, o preconceito quebra lâmpadas no rosto de inocentes e eles vão ter que conviver com as cicatrizes pelo resto de suas vidas – e este é apenas um exemplo dos incontáveis casos de violência contra homossexuais – mas para a bancada evangélica a homofobia não precisa ser considerada crime.
Abro o jornal e me deparo com um caderno especial da igreja evangélica falando um punhado de asneiras que não cabem aqui e comemorando o fracasso da lei PLC 122, que visava tornar crime os atos homofóbicos. Lembrem-se: esses são os mesmos governantes que enchem suas cuecas com o nosso dinheiro e que deixam nossa educação, segurança, saúde e a fome do nosso povo “ao Deus dará”. Acordem! Deus não dará! Desde o tempo que escreveram aquela obra de ficção chamada Bíblia nenhuma voz se pronuncia lá do céu (o que me parece óbvio, já que com a ciência foi possível descobrir que ouvir vozes é sintoma de esquizofrenia ou algum outro transtorno psiquiátrico).
Uma coisa vale para todos: sejam fanáticos, religiosos ou ateus – cada um tem o direito de fazer suas escolhas, contanto que não interfira na vida dos outros. Ninguém pode julgar ou querer ditar o que é certo e errado, porque isso cabe a cada um, e depende do que carregamos dentro de nós e daquilo que nos cerca. A maioria das pessoas precisam se agarrar à fé, seja para se suportar, seja para ter a quem culpar, e eu não estou aqui para condenar as crenças de ninguém, estou apenas reclamando limites, buscando o respeito que todos merecemos. Estou tentando fazer-lhes entender que assim como eu conheço meu lugar e sei que não devo beijar minha namorada em público por sermos homossexuais – acredito que não temos o direito de forçar alguém a aceitar – as religiões também não têm o direito de reger nossos passos. E o mais incrível é ver que muitos ainda pagam o dízimo para serem manipulados por estes ditadores hipócritas e sem escrúpulos.
Não seja tão pequeno de mente e entenda que eu não estou ofendendo seu Deus, estou falando das instituições que afirmam falar em nome d’Ele.

Writen by: Angélica Manenti

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Não posso deixar que vá


Andei por muito tempo sem ter definido uma direção certa, procurando alguns pretextos, me agarrando às meras distrações, me degradando com diversões enganadas. Sempre conservei meus delírios de topar com uma linda história na próxima esquina, cheia de altos e baixos que resultasse numa forma de amor perigosa; queria sentir a aflição dos instantes de saudade e mergulhar em nossas melhores lembranças; queria precisar dessa minha coragem que acumulei nos meus dias de solidão; queria não me importar com a tempestade e com o ruído amedrontador da chuva lá fora, abafado pelo barulho do meu coração que bate de maneira descompassada, repleto de angústia e do seu amor. Queria sentir aquele seu olhar afiado rasgando no fundo dos meus olhos, me doendo de amor e medo, e voltar ao primeiro abraço para sentir aquela paz demorada me inundando de ternura e zelo.
Estou gostando de andar na chuva, tentando descobrir o mundo inteiro antes que me devore a vertigem de pensar em perdê-la. Estou coberta de desespero dos pés à cabeça, maldizendo esse azar que insiste em nos separar, antes que eu me afunde em veredas. Ainda que me dilacere esse terror de lhe perder, eu estou quebrando todas as minhas promessas e me entregando completamente a você.
Posso afirmar que nunca senti nada parecido antes, quando falta o ar para respirar; nunca me permiti amar além da conta e sempre procurei me manter num abrigo seguro, resguardada da dor; mas por você eu ignorei os meus limites, acordei os meus monstros interiores e parti para a batalha; tomei a liberdade de me desmanchar em sentimentos por você. Abri as portas e janelas, deixei você entrar sorrateira e me encontrar frágil e desprotegida, precisando de você. Agora que os seus lábios e a sua voz são minhas únicas fontes de vida, não podemos mais nos afastar, porque eu só consigo respirar você.

Writen by: Angélica Manenti

Eu sempre vou estar aqui por você, meu amor.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A paz que você me traz


Eu quis fechar as portas e as janelas quando a vi se aproximando outra vez; tentei me trancar dentro da minha própria solidão jurando que nunca mais cometeria a loucura de me entregar às armadilhas do amor. Mas você chegou sorrateira, inundando minha espera com a agonia de não ter por onde começar a lhe procurar. Você me devolveu a coragem que eu intencionalmente havia deixado passar e me pegou desprevenida, quando eu ainda estava reorganizando minhas manias e medos, formulando meus planos de esquecer os carinhos e as dores e você chegou me decifrando e me arrancando sorrisos que eu vinha negando há tanto tempo. Você foi mais esperta do que a minha intenção irracional de suicidar meus sentimentos, você arrancou meu sossego com essa necessidade inexplicável da sua presença e veio me obrigando ser feliz.
Você quis se fazer sol e invadiu todas as frestas da fortaleza que eu mantinha encerrada; eu que nunca havia sentido esses anseios de dividir minha vida com alguém, agora me percebo partida ao meio pela saudade que me abraça quando estou longe do seu abraço. Eu a vejo em cada cômodo da casa, com seu jeito de menina que ainda sonha fugir de casa, agindo como se o mundo lá fora tivesse parado de girar para esperar que a gente sinta cada segundo desse amor como se fosse um pedaço de eternidade.
Eu me levanto no meio da madrugada, chamando seu nome, acordada pelo seu cheiro que ficou gravado no meu travesseiro, procurando você pela casa desejando que seja só mais uma das suas brincadeiras de se esconder de mim. Eu ando assim, meio sem rumo e tão repleta de sonhos outra vez, eu que repudiei as madrugadas, insone, tentando resistir a esse amor. Quero que esses dias de paz ao seu lado sejam a minha rotina daqui adiante.
Sinto como se você tivesse me resgatado de um poço no qual eu tinha escolhido me atirar junto ao meu egoísmo e agora que tornei à superfície e posso voltar a respirar eu me encontro imersa em seu mundo outra vez.

Writen by: Angélica Manenti

terça-feira, 31 de maio de 2011

Degelo dos Pólos


Eu poderia reviver aqueles dias para sempre, e poderia até tomar a liberdade de amá-la cada dia mais, mesmo que ainda tenhamos a nossa secreta e silenciosa batalha contra o medo. Temos muitas cicatrizes do passado, lembranças mal resolvidas e uma história repleta de idas e vindas.
Mas eu já posso encontrar dentro de mim os motivos mais absurdos para precisar da sua presença: gosto do seu jeito descompromissado com a vida, sempre cheia de energia, buscando diversão e arrumando pretextos para parecer fria e desinteressada; gosto quando você se aquieta para conversar comigo e eu me sinto como se fosse a única incrivelmente capaz de lhe fazer sossegar por alguns instantes.
Você é o abraço certo para atravessar o inverno, aconchegante e completo, e eu fico querendo parar o tempo nos seus braços para guardá-la num estreito da memória onde as horas nunca mais voltariam a passar.
Você já atrapalhou todos os meus planos de solidão ao encontrar uma brecha no oceano congelado em que eu encerrava meu coração, e agora que voltei à tona e recuperei meus sentidos eu quero as sensações mais intensas: quero sentir nosso sangue pulsando nas veias depressa, no mesmo ritmo perigoso dos amores mais arriscados; quero sua imagem mais nítida nos meus sonhos mesmo que seja para me atormentar; quero seu cheiro impregnado em meus pulmões me impedindo de respirar; quero o gosto do beijo que anestesia meus membros e me deixa inerte; quero suas impressões digitais gravadas na minha pele como ferro em brasa. Só não me deixe voltar ao inferno de ter que passar os dias tentando lhe esquecer.

Writen by: Angélica Manenti

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Vinte e três de maio, onde estiver


Muitos podem questionar esse amor, eu mesma já tentei de forma totalmente inútil compreender como pode um sentimento se manter vivo por tanto tempo e em circunstâncias tão adversas.
Primeiro foram as dúvidas, a distância, o medo da ilusão; foram tantas idas e vindas, tantas datas que ficaram para trás e por tantas vezes a única coisa que eu desejei foi poder estar com você para fazer desses momentos os mais especiais. Por tantos anos eu convivi com a agonia de ter as mãos atadas, de não poder fazer nada pela nossa história. A pressão das escolhas que poderiam machucar tantas pessoas, somada ao amor mais intenso que eu já senti.
Eu só fiz planos para o resto da minha vida ao seu lado, e acabei completamente sem rumo quando você foi embora. Já passaram alguns anos desde a sua partida e eu continuo sem saber o que aconteceu tanto antes quanto depois de você na minha vida. Mas eu guardei aquelas nossas datas, para me doer sozinha; reservei todos os dias vinte e três de todos os meses de maio para lhe dizer minhas melhores palavras, em silêncio; vou conservar todos os abraços de cada um dos seus aniversários que passarem em branco para lhe entregar um dia.
Eu nunca pude lhe cobrir de presentes caros, eu só podia oferecer palavras – como faço agora – e fico imaginando se em algum lugar do mundo, onde quer que você esteja, se você vai ler essa confusa carta de aniversário e aceitará como um presente simbólico.
Talvez com o tempo eu possa aprender que essa coisa de felicidade não foi feita para nós; pode ser que você esteja muito melhor no caminho que escolheu seguir e, considerando que o amor é o constante exercício do desapego, eu a amo o suficiente para um dia aceitar que você não pode mais voltar.
Desejo sinceramente que você esteja bem e que ainda seja capaz de encontrar bons motivos para sorrir. Que você comemore, que dance, que ame e lembre de mim bem vagamente em um canto esquecido da sua memória; não quero ser uma lembrança triste, mas quero que me sinta sempre por perto, como nunca pudemos estar antes.

post scriptum: este texto é uma esperança de que meu presente e minha presença sejam entregues, onde quer que ela esteja - Amanda.

Writen by: Angélica Manenti

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Velha Moldura


Não vou falar de amor porque ainda não consegui definir o que existe entre nós. Você ainda se contenta com essa vida mambembe, cercada de amores de letreiros luminosos, cada qual mais teatral que o outro e sem um pingo de verdade, enquanto fica tentando provar para si mesma que não me quer por perto. Mas você nem consegue disfarçar o quanto se sente segura ao acordar de repente no meio da noite e ver que ainda estou ali deitada ao seu lado, cuidando dos seus pesadelos. Você acomoda a cabeça no meu peito para poder sentir melhor o meu perfume misturado ao cheiro da festa que eu abandonei para ir até você. Eu fico querendo respirar o mais profundo que puder aquela sua ternura inesperada que não se encaixa na sua rebeldia.
Você tem esses raros momentos em que aquieta sua selvageria, e quando eu consigo um pretexto para entrar na sua vida eu preciso estar sempre alerta, ciente de que logo você irá escapar. Arredia como é, está sempre fervilhando idéias de fugir, sempre querendo se libertar.
Eu tento explicar a bagunça que você faz na minha vida, mas você não gosta de escutar e vive dizendo que é impossível lhe entender mesmo. Eu tenho algumas opiniões mal formadas: acho que você tem medo de se submeter aos amores e às dores de ser feliz, está acomodada com sua falsa liberdade e com a leveza de ser superficial. Talvez você seja aquele tipo de pessoa que sofre ao encontrar a paz, que prefere o barulho ensurdecedor de procurar por nada no lugar errado; talvez você não sinta necessidade de abraços e beijos ou não dê importância para a saudade. Você nunca tem resposta para as questões sobre nós e acha que é um capricho tolo meu querer saber quando é que eu vou poder lhe ver de novo.
Mesmo tão incontrolável você parece fazer súbitos acordos de paz comigo quando reconhece as vantagens de estarmos bem: diz que sou boa em lhe fazer sorrir, que fui a única que já conseguiu lhe deixar constrangida e você até ficou impressionada com a cor que os meus olhos têm pela manhã.
Reencontrar você é perceber o quanto está mais bonita - talvez um tanto mais sincera - e que adquiriu alguma capacidade nova de sonhar que antes eu não conhecia; é como reviver o passado, mas cometendo só uma parte daqueles velhos erros.

Writen by: Angélica Manenti

sábado, 14 de maio de 2011

Mundo Mudo


Ah, mundo.
Tanta gente só e nós aqui nos desgastando na ausência de palavras.
Tão pouco a dizer sobre tudo que ainda falta entender.
Mundo mudo,
Teu silêncio me ensurdece.
Não quero dormir sem antes ouvir tua voz.

Ah, mundo.
Atmosfera onde faltam as verdades,
Eu me reviro com as curiosidades,
Esgoto meu discurso.

Ah, mundo de vaidades,
Já nem liga se no meu sorriso se estampa tua saudade.
Mundo discreto,
Mundo covarde.

Mundo mudo,
Descompassado e repleto,
Caminhos por onde não me arrisco,
De pés descalços num deserto.

Ah mundo distante,
De lonjuras e serenos
Sinto falta dos nossos segredos,
Ainda posso sentir o teu cheiro.

Mundo que se revela,
Um horizonte a se estender.
Estradas, vielas,
Eu escondi tuas cores para te proteger.

Ah, mundo de exageros,
Desperdício de sons e sofrimentos.
Lágrimas derramadas ao acaso,
Separando lembranças e momentos.

Writen by: Angélica Manenti

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Olhos de Vênus


"just give her a kiss worth dying for [...] just show me a life worth living for"

Estou procurando uma palavra menos agressiva para começar; estou pensando em algum tema sobre o qual eu possa discorrer sem que volte a me repetir nem que pareça implorar e me comprometer com essas insensatas declarações de amor.
Meus sentimentos são tão baratos para as outras pessoas que ninguém se preocupa em me perder. Minhas desculpas são tão pouco confiáveis que ninguém se importa em me ouvir. Eu só falo de mim, e ainda assim não fui capaz de me definir, de assumir um lado e defender o que penso. Vivo buscando a auto-compreensão e sempre me pego andando na contramão. Acabo fazendo rimas quando não é essa a minha intenção. Abandono todos os meus projetos antes do fim e me justifico dizendo que perdi meus motivos quando ela foi embora.
Todos querem me convencer das vantagens de me tornar uma pessoa fria, mas eu não quero perder essa essência. Tudo bem, eu posso agüentar mais alguns dias de espera, sem telefonar, mas tenho certeza de que isso não vai me ajudar a recuperar nada, e o único resultado será provar que sou uma egoísta que não merece perdão mesmo. Mas desde quando o amor tem de ser um jogo onde o último a dar o braço a torcer é quem vence?
Eu não gosto de deixá-la ir embora porque nunca sei quanto tempo ela pode demorar a voltar. Não importa se minhas atitudes foram reprováveis, contanto que eu não deixe de seguir aquilo que sinto só para mostrar que posso ser mais madura; ficar medindo forças com ela nessas horas não me parece uma prática muito sensata.
As palavras hoje me parecem tão pálidas, os meus argumentos tão mornos, não encontro mais os bons e velhos desesperos. Estou com o coração sossegado, sintético, mas ainda sinto o demônio rastejando no chão do meu paraíso. Eu quero encontrar as chamas que ouço crepitar, quero me queimar com as faíscas desses segredos impuros para não ter mais de sentir essas dores tão brandas. Quero um horror de verdade e não esses pesadelos covardes que se dissipam com a claridade. Eu estou totalmente aberta para que se aproxime e venha marcar minha pele com as brasas da sua arrogância, mas pare de me tratar com indiferença e me faça sentir alguma coisa, prove que estou viva e me dê algo pelo qual vale à pena continuar.
Eu vi o sangue pulsando nos olhos dela e senti o gosto do veneno no beijo, era a vida latejando e eu precisava beber aquele final.

Written by: Angélica Manenti
Trecho do início: Venus Doom - H.I.M

terça-feira, 12 de abril de 2011

Advérbio de Intensidade


O futuro pouca coisa nos reserva se a gente espera sem se levantar; a lembrança pouca coisa nos esclarece se a gente não se acostumar a contar. Nem mesmo as amizades mais sinceras são feitas de matéria não perecível; tudo se estraga, todo sorriso vence. O prazo dos segredos tem os dias contados. O nosso recanto ainda cheio de saudade tem paredes frágeis; o único teto que nunca desaba é o céu estrelado, um telhado do passado que hoje se esconde acima das nuvens, acanhado.
Nossos amores se cansam, nossos sonhos acordam antes do fim, no meio da madrugada e não combinam com a realidade. A beleza perdeu a rima, a essência perdeu a chance, a persistência perdeu a constância.
Agora eu sou culpada por viver tão intensamente cada um dos meus amores, parece difícil acreditar em mim só porque sou capaz de amar com mais freqüência do que a maioria das pessoas e sempre me esqueço que isso vai me machucar, ou simplesmente não me importo tanto assim.
Não gosto de joguinhos e nem de esperar, o amor não é feito disso, eu sou mesmo sincera demais: conto todas as minhas histórias e me exponho aos perigos só porque gosto de me arriscar; reclamo porque sou humana e faz parte da minha natureza, mas não significa que eu preferia não ter aprendido.
Sou extrema nos meus gestos, sou egocêntrica e auto-destrutiva, sou do instante agora e não me importo de percorrer quilômetros só para conseguir um beijo porque gosto da maneira como meu estômago revira, minhas mãos tremem e meu rosto congela naquele segundo último olhando dentro dos olhos dela.
Quando me apaixono – praticamente uma vez por semana – gosto de fazer tudo como se fosse o único e grande amor da minha vida, mesmo sem esperar nada do futuro; gosto de viver os medos maiores, de atravessar todas as vezes as angústias primeiras, as vontades impossíveis e de ter as lembranças eternas. Gosto da aventura que são as mulheres e preciso de mulheres que me façam perder a cabeça, que eu pague um preço alto por me aproximar e me despir por inteira para que eu possa-me sentir viva. Preciso de cada um desses amores sem lógica onde parece que me enfio só pelo prazer de abrir novas feridas.
Eu reclamo ausências, eu morro de saudades cada vez que desisto de uma garota e escolho não vê-la nunca mais. Eu torço para que retornem, me sinto vazia e procuro me preencher com outras formas de amor. No fim das contas eu estou errada por amar demais e querer encontrar a intensidade perfeita.

Written by: Angélica Manenti

quinta-feira, 17 de março de 2011

Raios no Planalto


Um clarão tomou conta do céu por breves segundos: foi a primeira noite sem estrelas no planalto. Você riscou minha lembrança como um relâmpago risca a imensidão azul, tão bela e tão perigosa quanto um raio. Não consegui desviar o olhar naquele instante, enquanto sua luz me hipnotizava e ofuscava todo o resto ao seu redor. Você era intocável, só podia ser observada de longe, guardada a uma distância segura.
Você surgiu como um trovão, e o choque da descarga elétrica que rasgou a escuridão fez tremer o ritmo dos meus batimentos cardíacos. Tentei reagir, ameacei correr, mesmo sabendo que seria impossível encontrar abrigo que suportasse o peso de toda a sua destruição.
Você é a tempestade dos primeiros dias, me confundindo com sua chuva calma e fria; você é água de grandes enchentes, inundação que eu já conhecia.
Você é o engano da ausência, é a dor bem vinda, é o despertar da saudade que dormia antes reprimida. Você é a calmaria depois do furacão.

Written by: Angélica Manenti
Brasília, DF - 08 de Fevereiro de 2011.

terça-feira, 8 de março de 2011

Verdades, Veredas


Há muitas distâncias por percorrer. O bonito dos sonhos fica longe, apartado do vazio e do tédio cotidiano, exige coragem para buscar, pede que se trilhe caminhos sem chão, travessias. O estranho do desejo insiste em se afastar; a felicidade é arredia, teima em escapar. É preciso gostar das paisagens, preencher-se com a vista que passa pela janela, se contentar no simples aguardar. Não podemos nos render ao equívoco de que tudo irá sossegar no final, deparar com o completo dos sentimentos só na última rua sem saída: a vida não tem linha de chegada. Temos de reparar, acostumar com o fato de que há beleza nas beiradas da estrada.
Há lembranças demais que remoer, algumas com desgosto, doendo feito corte profundo de lâmina afiada; outras com aquele brilho dos dias sem defeitos, me privando do pior dos medos: o medo da ausência.
A saudade – essa falta nostálgica – é uma vereda sem fim. A gente implora o viver de novo, para voltar no tempo achando que estando mais pronta aproveitaria melhor, não cometeria os mesmos despeitos. A gente delira, revira e bagunça o mundo tentando entender, e depois se desculpa pela falta de sensatez; a gente reclama, se vinga do destino e depois se arrepende, implora outra chance, mas a gente só ganha duas direções: uma das mãos do diabo e outra que desce do céu.
Todo estreito de mundo tem suas armadilhas, vertentes do mal, assim como toda verdade tem as suas mentiras, duelos da alma.

Inspirado em Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa

Written by: Angélica Manenti

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Tudo o que vale


A mesma questão me atinge todos os dias, mas a luz não se adianta para me salvar. Falta tanto sentido nos caminhos que trilhamos, falta tanta chuva ainda por se precipitar. Gostaria de encontrar algumas respostas, sei que você deve ter deixado um rastro perto da saída. Queria ter uma chance de olhar o futuro, descobrir se vale mesmo à pena continuar lhe esperando, ou se já está tarde o suficiente para desistir. Às vezes eu a reencontro em outros rostos, faço conexões com cenas que me atraem, fico cercada por você de todos os lados, não posso escapar. Noutras vezes eu distraio meus reflexos para lhe deixar passar em branco, sentir você fugindo para não gastar mais horas em vão arranhando aquelas velhas feridas.
Tudo fica sustentado no meu delírio de reaver os amores que me foram arrancados. Ainda acredito que os grandes sofrimentos, por justiça, me dêem o direito de encontrar o final feliz do outro lado. Preciso apagar esse rosto que fica se repetindo dentro da minha cabeça, que se materializa para me torturar. Preciso parar de jogar a responsabilidade da sua ausência nos ombros de outras pessoas que se aproximam de mim. Estou delimitando minhas chances, estou fechando meu próprio cerco, estou derrubando minhas muralhas.
O mundo não dá recompensas e entender isso me custou toda a esperança que tive um dia. Infelizmente ter compreendido não significa que será menos doloroso aceitar; aliás, aceitar vai além de qualquer possibilidade que envolva aqueles seus olhos de serpente venenosa latejando em minha memória. Você é um mal físico que me arde na pele, me queima as pupilas e atrofia meus movimentos; você é um mal súbito que me cega e me impede de caminhar.

Written by: Angélica Manenti

sábado, 22 de janeiro de 2011

A Fronha Inóspita


Essa não é uma história, é apenas o registro de uma memória:
Tínhamos uma fórmula - os amigos misturados à música, às bebidas mais variadas e aos pijamas. Juntamos tudo em uma festa barulhenta, com todas as cores da nossa bandeira. Pudera: deixaram-nos sozinhos numa casa.
Umas coisas incríveis precisam ser expostas sobre esse grupo (e me desculpem aqui se eu esquecer-me de citar alguém, porque somos como uma família em movimento: sempre tem aquele parente que aparece para matar a saudade e logo vai embora). Não temos distinção de raça, credo, orientação sexual nem qualquer outro; tem gente séria - mas que só consegue se manter séria por breves momentos - tem gente que dorme cedo - e assim passa a ser o alvo das piadas -, tem pessoas apaixonadas por outras pessoas - ou apaixonadas pela bebida -, tem gente que vive com fome, tem gente de todas as cores.
Tem meninas que preferem meninas, tem gente que gosta de um pouco de tudo, tem gente que prefere não opinar. Tem até uns que dizem gostar de outra coisa, mas ninguém acredita. Tem gente que dança porque sabe, tem gente que só sabe dançar quando bebe e tem gente que se revela quando dança. Mas o mais importante é que existe a amizade e isso não tem diferença que estrague.

Written by: Angélica Manenti
Esse texto foi escrito por livre e espontânea pressão. Desde o dia da tão inusitada festa do pijama (que durou três dias), o Rodrigo começou seu trabalho de chantagem comigo pra que eu escrevesse algo sobre a festa. E enfim no dia do aniversário dele eu lhe entreguei essa obra prima da literatura.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A Consciência


A minha vida está atrasada: fico adiando compromissos e obrigações, olhando o calendário na esperança de ver que alguns dias ainda não passaram, mas os números não perdoam, o tempo está correndo. A espera é pegajosa, inunda todos os aposentos, carregada de demora. O incerto – a esperança que não tem a mínima chance de se concretizar. Acreditar na volta é só uma ilusão insensata, não há lógica nessa angústia – e eu sei – mas não aguardo a presença, apenas torço pelo fim do desespero, e que a aflição deixe de ser um drama insolúvel e intrínseco à vida.
Não há mais paisagem que me agrade, não há mais lugar que me transmita sossego. A paz não irá se manifestar em meio ao desconforto de se sentir deslocada dentro da própria casa.
A vida não espera, e nada muda se eu não começar a me mover. Eu digo que não vou mais me importar, mas quando tudo silencia e os outros pensamentos se esvaziam é aquela velha memória que assume o controle e vem me atormentar.
E eu que já fui mais simples, mais comum de sentimentos, acredito que minha solução talvez fosse retornar – voltar o filme, pausar na parte em que nada disso fazia diferença, quando eu dizia o que me viesse à cabeça. Era o tempo de não sentir medo; eu era só coragem, enquanto hoje sou um risco: arrisco poucas coisas para não passar nem perto da derrota e acabar me tornando ainda menor.

Written by: Angélica Manenti

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Contrário


Gosto da simetria e das estradas sinuosas, da harmonia e do balanço descompassado do mar; do ritmo acelerado, indigno, os corpos suados nos dias sem sol. Gosto da vida lenta, preguiçosa, demorando a passar quando a pressa nos invade forçando as escolhas, obrigando a esperar. Gosto do inteiro quando encontro a metade.
Agora eu perdi o fio da meada, me confundi num emaranhado de contradições. O tempo sempre na contramão, beirando o fim para justificar o passado vazio. Tenho sempre mais de uma opinião, estou dos dois lados, gosto de me defender, mas também preciso atacar. Estou segurando as pontas, atando os nós, mas estou sempre planejando fugir. Gosto do caminho errado porque o considero mais certo, só para provar o contrário. Não me obrigo a nada, mas me presto a muitos sofrimentos em vão por conta de detalhes. Compro dores que não me pertencem e depois eu reclamo. Gosto de causar danos e depois ajudar na arrumação. Gosto de me lamentar, embora eu saiba que a melhor cura para os erros seja esquecer.
Descansar é um segredo que eu ainda não desvendei: sempre volto muito tarde e não gosto de passar muitas horas sozinha. Não. A solidão é uma armadilha para os desesperados, empurrando em direção ao abismo, o extremo das soluções. É a agonia sem saída.
Os dois lados da moeda, o outro lado da ponte, o lado mais fraco, o lado da sorte. Gosto de observar tudo de cima do muro: transfigurei-me em neutralidade, calei minha voz.

Written by: Angélica Manenti