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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eu avisei

Vasculhando cartas que escrevi para você há tanto tempo e que nunca tive coragem de enviar, percebo como sempre vivemos mesmo nos extremos do amor ou do ódio. Não sou capaz de lembrar sequer um dia em que meus sentimentos por você não fossem absurdamente intensos. Quando não a dor dilacerante da sua ausência, aquela completude da sua companhia e a grande aura de amor incondicional que nos envolvia. Mas você sempre foi cheia de idas e vindas, e isso refletiu em nós. Mais uma vez você foi, e acabou com o nós.
Quantas vezes eu já escrevi as saudades que sentia de você, ou então as angústias por querer lhe atender em tudo e não saber; quantas vezes suportei o medo de lhe perder e quantas lágrimas já derramei por ter lhe perdido. Você é uma constante instabilidade que me deixa inconformada. Eu não sei nada sobre você, mas sou constituída de memórias suas. Você vive fazendo escolhas que eu não compreendo, então eu lhe contesto e depois acho que me arrependo.
Hoje eu desejo muitas coisas, e dentre todas, duas são mais tentadoras: esquecê-la de uma vez por todas, ou tê-la de volta, enfim. Eu sei que o melhor para mim e até mesmo para a minha sanidade seria esquecê-la. Talvez a própria solidão que eu penso sentir quando você me falta, na verdade se dissolva assim que eu aprender a conviver pacificamente com a sua lembrança. O problema é que nada com você é tranquilo; você ocupa muito espaço, na memória, no coração, onde quer que tenha passado, você preenche tudo e vai devorando as possibilidades que restavam para eu poder escapar.
Ter você de volta seria encarar a tempestade outra vez; e eu sempre tive tanto medo dessas incontroláveis forças da natureza. Venho tentando me convencer de que você pode ter optado por me proteger, de que sabendo dos danos que é capaz de causar, você preferiu me deixar e seguir seu curso por outros caminhos; mas às vezes sinto que você adora me ter por perto, ainda mandando flores no seu aniversário e assegurando que se um dia essa muralha que você construiu ao redor dos seus sentimentos se desfizer, eu ainda estarei aqui para lhe agarrar ao fim da queda.
Eu queria mesmo entender se sou eu quem não consegue se desvencilhar de você, ou se é você quem me assombra só para me garantir ao seu redor. Acho que você nunca me esqueceu, e talvez tenha mesmo me faltado atrevimento de esfregar essas coisas na sua cara. Por exemplo, eu devia ter lhe dito que você não é a única dona das decisões que nos envolvem, já que eu também sou uma parte interessada, e, por conseguinte você tem a obrigação de me deixar saber quando eu posso dar mais um passo. Mas de repente você resolveu se fechar em seu casulo, envolta em mistério, sustentando uma vida que você não sonhou em ter. Eu deveria ter atirado na sua cara que a vida que você sonhou é comigo, e que já basta de ficar errando em relacionamentos que não a satisfazem.
Estou farta de gastar minhas habilidades com as palavras tentando lhe convencer de que chegará um dia em que você voltará para me procurar e eu não estarei mais aqui. Mesmo que eu repita isso mil vezes, você não acreditaria mesmo, já que nem eu acredito agora. Mas eu sei que quando esse dia chegar, eu finalmente poderei usar aquele velho clichê “eu avisei”, e sentir pena, porque nós tínhamos reservada para nós uma linda história.

Angélica Manenti

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