Meu relógio de pulso só pode estar errado. O meu dia inteiro é um ponteiro sem rumo, perseguindo o fim: da tarde, da semana, da angústia. Meus minutos todos são o sempre-alerta, evitando os desastres que supostamente venham a se revelar. As madrugadas inóspitas, sem sonhos nos quais eu possa acreditar. Algumas noites jogadas fora com uma garrafa de conhaque barato. A vida nos mata lentamente; e o valor da vida não paga uma dose de qualquer bebida. Às vezes, principalmente nos dias em que não amanhece eu mal posso sentir o cheiro da vida por entre o véu de neblina. Como no inverno, quando a vida se esconde e fecha bem todas as suas janelas.
No relógio de parede, as voltas dos ponteiros me deixam tonta quando tento acompanhar seu ritmo: o tempo se foi. Mais uma espera se esgotou. A memória seguiu se vingando impiedosamente. Horas inúteis e corrompidas. Rasguei mais uma tentativa falha de carta de despedida. A lixeira transborda, lá pelas tantas da madrugada. Passei mais uma semana rasurando meus próprios pensamentos.
Desisto.
Estas linhas estão tortas, o papel está molhado, as idéias se fizeram pó, ao vento.
- Levante-se. Ou você pretende gastar sua vida sentada nessa cadeira?
Mas era da consciência mal saciada. Faltavam lembranças boas para revirar nas horas vagas.
- Vá descansar, um dia, durante o final de semana inteiro.
Mas é mentira. Estou sempre correndo, fugindo e evitando.
- Certamente, você deve ter um fôlego e tanto para escapar sempre assim – ilesa – das ofertas da vida, que são tantas e tão tentadoras. Dá mesmo para ser feliz sem nunca se entregar?
Mas é só por conta do terror – monstruosamente indescritível – que eu sinto de algemas. O fato de não precisar usá-las é quase um conforto para a alma.
- Poderiam lhe servir como lição. E quanto aquele seu assunto, você ainda espera uma ligação?
Aquela notícia. Era um apelo revivido, um tempo em vão. Esperar pode ser como o tédio dos dias de domingo e mais nada. Como se um momento, sem mais nem menos, a cena do filme congelasse. Voltaria a rodar quando o telefone tocasse ou a porta se abrisse. É claro que eu não parei nada daquilo que estava fazendo antes, só abandonei o que ficou pobre de razão. Eu ando ocupada, mas às vezes me pego distraída, imaginando aquele instante – como seria se ela voltasse – e o nosso sorrir de verdade, escorrendo alegria por todos os cantos. Seria um alívio, eu acho.
No relógio de parede, as voltas dos ponteiros me deixam tonta quando tento acompanhar seu ritmo: o tempo se foi. Mais uma espera se esgotou. A memória seguiu se vingando impiedosamente. Horas inúteis e corrompidas. Rasguei mais uma tentativa falha de carta de despedida. A lixeira transborda, lá pelas tantas da madrugada. Passei mais uma semana rasurando meus próprios pensamentos.
Desisto.
Estas linhas estão tortas, o papel está molhado, as idéias se fizeram pó, ao vento.
- Levante-se. Ou você pretende gastar sua vida sentada nessa cadeira?
Mas era da consciência mal saciada. Faltavam lembranças boas para revirar nas horas vagas.
- Vá descansar, um dia, durante o final de semana inteiro.
Mas é mentira. Estou sempre correndo, fugindo e evitando.
- Certamente, você deve ter um fôlego e tanto para escapar sempre assim – ilesa – das ofertas da vida, que são tantas e tão tentadoras. Dá mesmo para ser feliz sem nunca se entregar?
Mas é só por conta do terror – monstruosamente indescritível – que eu sinto de algemas. O fato de não precisar usá-las é quase um conforto para a alma.
- Poderiam lhe servir como lição. E quanto aquele seu assunto, você ainda espera uma ligação?
Aquela notícia. Era um apelo revivido, um tempo em vão. Esperar pode ser como o tédio dos dias de domingo e mais nada. Como se um momento, sem mais nem menos, a cena do filme congelasse. Voltaria a rodar quando o telefone tocasse ou a porta se abrisse. É claro que eu não parei nada daquilo que estava fazendo antes, só abandonei o que ficou pobre de razão. Eu ando ocupada, mas às vezes me pego distraída, imaginando aquele instante – como seria se ela voltasse – e o nosso sorrir de verdade, escorrendo alegria por todos os cantos. Seria um alívio, eu acho.
Written by: Angélica Manenti