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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Agonias Entrelaçadas


O que vou fazer com essa solidão teimosa que tem ocupado todo o espaço dos outros sentimentos? Eu pedi que ela fosse embora porque não agüentava mais aquela expectativa – passar os dias aguardando pode corromper nossos sentidos e noção de tempo, transformando minutos em dias, ressaltando as horas vagas repletas de agonias.
As lembranças recentes vão se dissolvendo na mesma velocidade em que são criadas, enquanto que aquelas velhas memórias dos tempos de incerteza e coragem só fazem firmar ainda mais suas raízes.
Às vezes dá vontade de admitir que enlouqueci mesmo, que não consigo mais pensar direito e minha cabeça dói sob o peso do esforço que faço para esquecer o que já se calou e lembrar do que precisa permanecer. Dá vontade de gritar que chega, não quero mais ouvir nada disso. Mas a vida foi feita mesmo para ser suportada – na mentira e na desordem – como um grande teste de paciência. Apontar injustiças não obriga que elas sejam resolvidas assim como reclamar saudades não ressuscita os mortos.
As palavras precisam ser bem medidas nesse funeral de histórias mal acabadas: a intenção precisa ser comedida, a raiva tem de ser drenada. Escrever um desabafo pode reiniciar uma guerra adormecida, só depende do quanto disso aqui é verdade ou capaz de se encontrar com seus pesadelos mais íntimos. Deixem que a conheçam, revele seus defeitos, tire a máscara em público e veremos quem é capaz de lhe aceitar.
Não estou gostando dessas linhas e com certeza irei odiar as próximas, porque venho tentando descrever aqui imagens e sensações impossíveis de definir; talvez isso justifique minha dificuldade em me fazer objetiva. Havia tantos rostos se fundindo e confundindo meus desejos, de tantas mulheres que eu nunca mais consegui encarar de frente: algumas tão distantes, encantadoramente impossíveis; outras com ares de deusas da antigüidade, tão sagradas e intocáveis; algumas são a reencarnação de Lilith, demônio da promiscuidade, cheias de curvas e malícias; outras são víboras traiçoeiras, sedentas de sangue e se alimentando da culpa alheia; algumas tão doces e melancólicas; outras frágeis, desprotegidas, vingativas, arrogantes e desumanas.
Sinto falta de cada uma delas, assim como também sinto repulsa e temo que elas retornem. Não posso continuar sem elas, mas não posso mais revivê-las. Estou presa a uma contradição: não posso erguer as bases de algo novo sem que me livre do passado, mas continuo respirando o ar daqueles tempos.

Written by: Angélica Manenti

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